De respeito, sim. Homens e mulheres, todos temos direito a respeito igual. Ah e tal… isso é óbvio! Não, não é. Apesar de tantos direitos já conquistados para as mulheres e pelas mulheres, o respeito está longe de ser uma realidade. Muitas mulheres ainda entendem que não vale a pena denunciar situações de abuso porque acreditam que não vão ser respeitadas. Elas sabem que ao fazê-lo vão ser postas em causa e vão prolongar o mesmo abuso que queriam denunciar e do qual gostariam de se proteger. Seja num círculo mais privado, seja ao nível das instituições privadas e governamentais, há ainda um silenciamento e uma relativização das queixas das mulheres e da violência sobre as mulheres. Por sua vez, isto permite que uma cultura de inferiorização, de violentação e de humilhação, nas suas várias dimensões, se perpetue. Mas o que fazer para cultivar o respeito e contrariar o silêncio que alimenta a permissibilidade do desrespeito e do abuso sobre as mulheres? Aqui ficam algumas ideias para os homens, para as mulheres, para as autoridades e para a sociedade em geral, com o propósito de incentivar a comunicação de forma a que as mulheres se sintam seguras em dar voz às suas queixas quando são vítimas de algum tipo de assédio, abuso ou violência. Escutar É realmente importante saber ouvir quando alguém partilha uma situação em que se sentiu vulnerável e desprotegida ou injustiçada. Podemos fazer perguntas para perceber como a pessoa se sentiu, sem ser invasivos e pondo o foco na percepção da pessoa. Saber escutar é também validar as emoções do outro. Mesmo que eu não reaja da mesma maneira numa situação semelhante, eu posso entender as suas reacções e a sua sensibilidade. Não julgar Ninguém pede para ser desrespeitada ou abusada. Ninguém. Se partimos do princípio que a culpa está do lado de quem foi assediada ou violentada, não só estamos a proteger o agressor e a permitir outras agressões, como estamos a pôr em causa direitos fundamentais de todos, nomeadamente o direito à segurança e o direito à integridade física e moral. E não, a roupa que alguém tem vestida não tem nada a ver com o respeito que lhe é devido! Não relativizar ou minimizar Comentários como “deves ter entendido mal” ou “fulano estava só a tentar seduzir” ou ainda “deves andar por lugares duvidosos” põem em causa a capacidade de discernimento e de julgamento de quem já se sente invadida. A confusão, a existir, está do lado de quem não entende regras sociais básicas e tem dificuldade em reconhecer os limites pessoais dos outros. “If it feels wrong, it is wrong.” Se te sentes mal, está mal. Pôr-se em causa Algumas vezes, os homens, e também mulheres, têm tendência a inconscientemente proteger o abusador simplesmente porque se identificam com a posição confortável de não serem postos em causa. Este é um privilégio que a sociedade, de forma implícita, ainda dá aos homens, e, às vezes, também às mulheres que “seguem as regras”, e que pode ser imperceptível para quem dele usufrui. Então ponham-se em causa, perguntem-se se em alguma situação já abusaram da confiança que alguém vos deu, se já foram insistentes com alguém para além do aceitável. Sermos capazes de reconhecer os nossos erros não faz de nós pessoas más, mas é sinal de humildade e de crescimento. Não querer ouvir a história do outro para não perder uma posição que nos protege de lidar com o sofrimento, mesmo que alheio, dificulta a empatia e impede a mudança de mentalidades. Apoiar Podemos também ainda apoiar perguntando simplesmente “Como posso ajudar? O que precisas de mim?” Pode ser como companhia para ir ao médico, pode ser como testemunha abonatória, pode ser partilhando uma história semelhante para que a pessoa não se sinta sozinha, pode ser dando o contacto de um terapeuta, pode ser oferecendo apoio moral para fazer uma queixa oficial, se for caso disso. Pode ser de muitas formas e cada um, em cada momento vai saber encontrar a mais correcta. Apoiar é não silenciar uma mulher porque “se calhar não foi bem assim” ou “talvez tenhas entendido mal”. Apoiar é ouvir e não permitir que um pedido de ajuda, uma queixa ou uma denúncia caiam no silêncio. Apoiar é reconhecer a verdade do outro, a dor do outro e respeitar a sua voz. Em resumo… na dúvida, acreditem na palavra da mulher que está à vossa frente. Respeitem o que ela tem para dizer. Respeitem a sua vulnerabilidade, respeitem a sua zanga, respeitem a sua voz. Respeitem-na.
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Crescer é nascer mais um bocadinho. Às vezes dói e demora. Outras vezes é muito simples. Umas vezes são precisos cortes, incisões. E há alturas em que é tão fácil e natural. Às vezes as pessoas não querem crescer porque magoa. Mas não sabem que depois é bom, depois vem a melhor parte - depois somos mais do que éramos antes. Mais e melhores. (3 de Novembro de 2005)
Há uns dias li um texto de uma amiga que falava sobre escolhas e sobre a inevitabilidade de fazermos aquilo que nos é “preciso, necessário e vital.” Lembrei-me que, há uns meses, quando me perguntaram porque é que eu me tornei astróloga, eu respondi “não tive escolha”, foi um caminho que, por muito que eu tivesse resistido, se mostrou inevitável. No desenvolvimento pessoal é consensual que sermos quem verdadeiramente somos e expressar o nosso eu mais genuíno é o caminho para a felicidade. No entanto, nem sempre essa manifestação de autenticidade é aceite pela nossa sociedade, especialmente se tocar num dos grandes tabus, a sexualidade e as questões de género. Sexualidade, papel social de género, identidade de género e sexo biológico não acabam na definição binária masculino/ feminino. A vida e os nossos comportamentos não são assim tão a preto e branco, tão lineares. Não é linear a sexualidade, apesar de, cada vez mais, a sociedade se abrir à aceitação de comportamentos que se afastam da “norma”, como a homossexualidade, a bissexualidade e todo o arco-íris de possibilidades que existe na expressão saudável e ecológica do nosso lado sexual. Não é linear o papel social de género – durante o século passado o movimento feminista conquistou para as mulheres muito espaço que antes a sociedade reservava aos homens. Acredito também que, aos poucos, os homens vão começando a “invadir” o território feminino, assumindo tarefas domésticas e profissões tradicionalmente reservadas às mulheres. Não é linear a identidade de género – Laerte, cartunista brasileira, Eddie Izzard, actor e humorista de stand-up, ou ainda Chaz Bono, filho de Cher e Sonny Bono, são exemplos de diferentes vivências da transgeneridade. Não é linear o sexo biológico – o número de bebés que nascem com ambiguidade sexual é cerca de um em cada cem, bem maior do que a atitude da sociedade em relação a esta questão nos faria supor. Nada disto é linear, mas vivemos ainda num sistema social que insiste em organizar-se segundo um padrão polarizado, que dá liberdade de expressão aos comportamentos que consegue rotular e mantém à margem tudo o que seja diferente, desigual e dissonante. Em Astrologia, Urano rege tudo o que foge à norma, tudo o que fica fora da caixa, fora das classificações, os mutantes e os rebeldes, os revolucionários e os radicais e, desde 2011 e até 2019, este planeta está a passar pelo signo de Carneiro, o signo da afirmação e da individualidade. Este trânsito facilita e promove a expressão da verdade individual, a libertação corajosa e assertiva dos nossos medos e bloqueios, não apenas a nível pessoal, saindo do armário e confrontando família, amigos ou colegas, mas especialmente enquanto colectivo, abrindo-nos para comportamentos e formas de estar mais abrangentes e coloridos do que uma visão a preto e branco da vida. Acredito que os tempos que correm estão a trazer grandes avanços e transformações sociais a este nível. Dois exemplos rápidos: dos dezasseis países que reconhecem legalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, oito fizeram-no entre 2010 e o ano passado; a Argentina reconhece legalmente um terceiro género desde 2012 e a Alemanha e a Índia desde 2013. Espero que os próximos anos tragam ainda mais progresso nestas áreas e que comportamentos hoje considerados chocantes e aberrantes se tornem tão normais e aceitáveis como a heterossexualidade e a família “tradicional” – entre muitas aspas, porque sempre existiram muito mais modelos de família do que apenas aquele que entendemos como tradição. A propósito de como se começou a vestir de forma feminina, Laerte diz “o meu movimento inicial é uma necessidade, um desejo, uma vontade que se torna cada dia mais evidente”. Eu não escolhi ser astróloga e a minha amiga não escolheu ser fotógrafa, mas temos a liberdade de manifestar aquilo que somos, através da forma que nos é mais natural e inata, para mim as metáforas e o simbolismo, para ela a construção da imagem. Da mesma forma, outras pessoas não escolhem a sua sexualidade, ou o género com que se identificam, ou o corpo ambíguo com que nascem, no entanto, são forçadas a negar aquilo que são, para caberem nos modelos socialmente disponíveis, masculino ou feminino. Às vezes, mais vezes do que pensamos, a expressão verdadeira daquilo que somos passa pela vivência da nossa sexualidade, ou do nosso género e não cabe numa letra, M, F, ou LGBT. Às vezes, mais vezes do que pensamos, ter a liberdade de não ter escolha, mas de apenas ser quem realmente somos é o único caminho para sermos felizes, não só a nível individual, mas, essencialmente, a nível colectivo. "A felicidade consiste em dar passos na direcção de si próprio e ver o que se é." Há uns dias, numa conversa com um amigo, perguntei-lhe se ele era feliz. Apesar da resposta que me deu ser irrelevante para este post, o importante foi perceber que a palavra “felicidade” tinha sentidos diferentes para nós os dois e isto deixou-me a pensar no que é afinal a felicidade. A primeira coisa com que me deparei foi com a armadilha de nos convencermos de que prazer é felicidade. Diariamente, na televisão, na rua e até os amigos e a nossa própria família garantem-nos que se sentirmos prazer seremos felizes. Porém, esta ideia é ilusória e perigosa. O prazer, ainda que nos proporcione um bem-estar instantâneo, é efémero e depende de algo exterior a nós próprios, uma coisa, uma pessoa, um acontecimento que não nos pertence e que não nos pode garantir o bem-estar a longo prazo, muito pelo contrário. O prazer é apenas o contrário da dor e, enquanto pensamos que estamos de um lado deste eixo, estamos inevitavelmente a experienciar também o outro. O bem-estar verdadeiro e a consequente felicidade vem de dentro de nós, da nossa própria essência. Ele acontece, quando somos fiéis a nós próprios, quando o que somos está alinhado com o que pensamos, com o que sentimos e com o que fazemos. Mais do que um momento fugaz, ou sequer uma meta, é um caminho que decidimos fazer. No entanto, na maioria das vezes, não é fácil seguir este trilho, há sempre uma parte de nós (na melhor das hipóteses, apenas uma) que está em desarmonia com as outras e que nos bloqueia e nos impede de ver o acesso ao que nos faz sentir verdadeiramente bem e vamo-nos perdendo e afastando cada vez mais da nossa rota. Entender estas incoerências, estes conflitos e o porquê de nos separarmos de nós mesmos ao longo da vida é essencial para começarmos a olhar todas as personagens que nos habitam. Quais delas entram conflito e não se aceitam umas às outras? De que lado é que nos colocamos, com que personagens nos identificamos e quais as que rejeitamos e fazemos por esconder? Quando trazemos para a consciência as respostas a estas questões, estamos prontos para começar a fazer o caminho da felicidade. A Astrologia é uma fantástica ferramenta que nos mostra de forma clara as ligações entre cada uma das nossas facetas e que nos ajuda a desenrolar o fio de Ariadne do nosso labirinto pessoal. A Astrologia não dá felicidade, mas dá-nos o mapa para lá chegar, pois, ao mostrar-nos todas as partes de nós próprios, ao mostrar-nos inteiros, possibilita-nos iniciar o caminho para o centro de nós mesmos, onde somos um só, onde encontramos a felicidade. Há temas sobre os quais não se fala, existe um certo pudor sempre que são abordados e até algum desconforto. A morte é um desses temas. Temos dificuldade em falar dela e temos dificuldade em aceitá-la como parte do ciclo da vida. Para algo que é tão certo e inexorável, nós fazemos demasiados esforços para a evitar, para a contornar e para a adiar. Quando nos identificamos com o nosso corpo físico e com a nossa personalidade, a morte chega-nos como o fim, o limite da nossa vida a seguir ao qual nada mais existe e onde nós deixamos de existir. Desta forma, vivemos também a morte daqueles que nos são próximos, como um vazio que nunca mais será preenchido e ainda como uma lembrança de que um dia também o nosso tempo acabará. Esta ideia de vazio, o nosso ou aquele deixado pelas pessoas que amamos, é das coisas mais difíceis com que qualquer um de nós irá lidar ao longo da vida e, no entanto, é, em si mesmo, apenas um conceito. Ao aprender Astrologia, encontrei um novo significado para a morte, o significado que nos é proposto pelo signo de Escorpião e pela casa 8 do mapa astrológico. Crise e transformação são outras duas palavras que surgem frequentemente associadas a este signo e a esta casa e elas trazem-nos uma nova dimensão para esta ideia. Mais do que um fim definitivo e eterno, a morte e o vazio que ela deixa são fundamentais para que haja a renovação e continuidade da própria vida. Não é um processo tranquilo – recordo que crise é uma das palavras-chave – mas é um caminho essencial. Para largarmos o apego à matéria, que aprendemos a cultivar em Touro e na casa 2, o signo e casa opostos a Escorpião e à casa 8, é necessário abrirmos a porta que nos leva ao conhecimento do que somos para lá do corpo físico. No entanto, este processo só é possível quando nos permitimos morrer para aquilo que acreditamos que somos, quando o nosso corpo, os nosso traços de personalidade e a nossa bagagem intelectual passam a ser tão nossos quanto a roupa que vestimos – são importantes e devem ser cuidados, mas não são aquilo que somos. Este processo exige-nos a entrega e o desapego do que conhecemos e pede-nos que confiemos em algo que não controlamos, algo que nos transcende. Tudo isto são precisamente as aprendizagens propostas pelo signo de Escorpião e pelas experiências da casa 8. A nossa sociedade perdeu de vista a dimensão espiritual do indivíduo e vive demasiado focada num entendimento materialista da nossa existência. Por isso, temos tanta dificuldade em lidar com a morte. A morte não é uma inconveniência inevitável, nem tem que ser vivida como um vazio completo. Quando alguém que nos é querido morre, é importante reconhecer o vazio deixado pela sua ausência física e é necessário permitirmo-nos aprender a viver um novo ritmo, com novos hábitos e uma nova rotina que não poderá nunca ser igual ao que era antes. No entanto, é igualmente importante honrar a pessoa que partiu e recordar aquilo que deixou connosco, as suas memórias, as suas aprendizagens e os seus afectos, reconhecendo que a sua vida terrena teve uma razão e um propósito na teia maior da nossa existência. Desta forma estamos também a dar sentido à nossa própria vida e à nossa própria morte. A oração de São Francisco de Assis acaba com as palavras “e é morrendo que se vive para a vida eterna”. Todas as doutrinas espirituais reconhecem que a morte não é o fim em si, que existe algo mais para além dela. Na verdade, ela é apenas uma passagem para uma percepção mais alargada de nós mesmos e da própria vida, a percepção da nossa dimensão espiritual. A morte faz parte da vida, assim como a noite faz parte do dia. Entender isto e entender a importância da nossa vida para lá de nós mesmos permite-nos fazer da nossa vida um acto de transcendência. Nós temos um corpo físico e um conjunto de características pessoais, mas somos mais do que isso, somos almas e, ao encontrarmos outras almas, temos a oportunidade de reconhecer que todas somos apenas um único Espírito, uma única Vida, uma única Luz. |
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