Há temas sobre os quais não se fala, existe um certo pudor sempre que são abordados e até algum desconforto. A morte é um desses temas. Temos dificuldade em falar dela e temos dificuldade em aceitá-la como parte do ciclo da vida. Para algo que é tão certo e inexorável, nós fazemos demasiados esforços para a evitar, para a contornar e para a adiar. Quando nos identificamos com o nosso corpo físico e com a nossa personalidade, a morte chega-nos como o fim, o limite da nossa vida a seguir ao qual nada mais existe e onde nós deixamos de existir. Desta forma, vivemos também a morte daqueles que nos são próximos, como um vazio que nunca mais será preenchido e ainda como uma lembrança de que um dia também o nosso tempo acabará. Esta ideia de vazio, o nosso ou aquele deixado pelas pessoas que amamos, é das coisas mais difíceis com que qualquer um de nós irá lidar ao longo da vida e, no entanto, é, em si mesmo, apenas um conceito. Ao aprender Astrologia, encontrei um novo significado para a morte, o significado que nos é proposto pelo signo de Escorpião e pela casa 8 do mapa astrológico. Crise e transformação são outras duas palavras que surgem frequentemente associadas a este signo e a esta casa e elas trazem-nos uma nova dimensão para esta ideia. Mais do que um fim definitivo e eterno, a morte e o vazio que ela deixa são fundamentais para que haja a renovação e continuidade da própria vida. Não é um processo tranquilo – recordo que crise é uma das palavras-chave – mas é um caminho essencial. Para largarmos o apego à matéria, que aprendemos a cultivar em Touro e na casa 2, o signo e casa opostos a Escorpião e à casa 8, é necessário abrirmos a porta que nos leva ao conhecimento do que somos para lá do corpo físico. No entanto, este processo só é possível quando nos permitimos morrer para aquilo que acreditamos que somos, quando o nosso corpo, os nosso traços de personalidade e a nossa bagagem intelectual passam a ser tão nossos quanto a roupa que vestimos – são importantes e devem ser cuidados, mas não são aquilo que somos. Este processo exige-nos a entrega e o desapego do que conhecemos e pede-nos que confiemos em algo que não controlamos, algo que nos transcende. Tudo isto são precisamente as aprendizagens propostas pelo signo de Escorpião e pelas experiências da casa 8. A nossa sociedade perdeu de vista a dimensão espiritual do indivíduo e vive demasiado focada num entendimento materialista da nossa existência. Por isso, temos tanta dificuldade em lidar com a morte. A morte não é uma inconveniência inevitável, nem tem que ser vivida como um vazio completo. Quando alguém que nos é querido morre, é importante reconhecer o vazio deixado pela sua ausência física e é necessário permitirmo-nos aprender a viver um novo ritmo, com novos hábitos e uma nova rotina que não poderá nunca ser igual ao que era antes. No entanto, é igualmente importante honrar a pessoa que partiu e recordar aquilo que deixou connosco, as suas memórias, as suas aprendizagens e os seus afectos, reconhecendo que a sua vida terrena teve uma razão e um propósito na teia maior da nossa existência. Desta forma estamos também a dar sentido à nossa própria vida e à nossa própria morte. A oração de São Francisco de Assis acaba com as palavras “e é morrendo que se vive para a vida eterna”. Todas as doutrinas espirituais reconhecem que a morte não é o fim em si, que existe algo mais para além dela. Na verdade, ela é apenas uma passagem para uma percepção mais alargada de nós mesmos e da própria vida, a percepção da nossa dimensão espiritual. A morte faz parte da vida, assim como a noite faz parte do dia. Entender isto e entender a importância da nossa vida para lá de nós mesmos permite-nos fazer da nossa vida um acto de transcendência. Nós temos um corpo físico e um conjunto de características pessoais, mas somos mais do que isso, somos almas e, ao encontrarmos outras almas, temos a oportunidade de reconhecer que todas somos apenas um único Espírito, uma única Vida, uma única Luz.
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