Negação, sombra e compulsão fazem parte da simbologia de Lilith. A sua força é poderosa e vem directamente do inconsciente, de um lugar onde o ego não controla. Talvez por isso, ela seja tão incompreendida, temida e reprimida. Na verdade, existem três pontos denominados Lilith: o foco vazio da órbita lunar; o asteróide Lilith; e uma hipotética segunda lua, identificada pelo astrónomo alemão Waltemath. Todas elas têm significados que se cruzam e que se complementam, mas neste artigo vou falar apenas da primeira. Na sua órbita à volta do nosso planeta, a Lua descreve uma elipse, sendo a Terra um dos seus pontos focais e o outro um ponto vazio. É este segundo foco vazio que, de um ponto de vista geocêntrico, está situado na mesma direcção que o apogeu da Lua, o ponto da órbita lunar mais distante da Terra, que chamamos de Lua Negra, ou Lilith. Enquanto os nodos lunares nos falam da relação das órbitas da Lua e do Sol, a Lua Negra descreve a relação da órbita da Lua com a Terra. Este ponto, que demora cerca de nove meses a percorrer um signo, tem uma grande oscilação, alternando constantemente entre o movimento directo e o retrógrado. Devido a esta instabilidade, consideram-se duas posições para Lilith: a Lilith verdadeira, a sua real posição no zodíaco; e a Lilith média, que resume o seu percurso a uma média linear. Esta última é a que aparece normalmente indicada por defeito nos programas de Astrologia. No entanto, a astróloga Kelley Hunter considera que a diferença entre as duas, que pode ir até 30°, forma um corredor no nosso mapa natal onde a sua influência é sentida. Segundo a mitologia hebraica, Lilith teria sido a primeira mulher de Adão, criada ao mesmo tempo e do mesmo barro que ele. Mas Lilith não se quis submeter a Adão, nomeadamente no sexo, e abandonou-o. Foi então que Deus criou Eva a partir da costela de Adão, não como igual, mas como uma parte dele, pertencendo-lhe. Por raiva Lilith ter-se-á transformado num demónio que matava crianças e seduzia os homens no seu sono. Lilith também é associada à serpente que incita Eva a colher o fruto proibido da Árvore do Conhecimento e, ao comê-lo, ela e Adão passaram a poder distinguir o bem do mal, abandonando assim a perfeição do Jardim do Éden e entrando no mundo da dualidade. A mitologia de Lilith cruza-se ainda com a de outras deusas como Inanna, Ishtar, Kali, Vénus ou Hécate, havendo dois grandes temas que a ligam a estas: o poder da sua sexualidade e a sua ligação com o instinto, o lado sombra e o submundo. Lilith é a mulher selvagem, o feminino indomado e insubmisso, a força da Deusa que o Masculino, o Ego e a mente racional não podem controlar. A Deusa sabe que o caminho para o Um passa inevitavelmente pelo Dois, pois a unidade contém em si a dualidade. Neste sentido, o feminino não é apenas o oposto do masculino, o feminino é também o desdobramento do um em dois. A luz deixa de ser apenas luz para se transformar em luz e sombra, a consciência é possível porque inclui em si o inconsciente, o espírito manifesta-se no instinto e o ser humano reconhece o seu lado animal. Lilith representa no nosso mapa uma pulsão inconsciente e primitiva, que pode ser de vida ou de morte. Ela pode manifestar-se como uma força vinda directamente da Natureza, pura, visceral, poderosa e inexorável, ou como uma negação, um vazio, as trevas dentro de nós para onde não conseguimos nem olhar, quanto mais aceitar. Onde ela está encontramos sempre um grande desafio e um grande talento. Imagina que te aproximas de um precipício, desconheces as tuas asas, nunca as usaste e por isso não acreditas sequer que elas existam. Esse precipício apresenta-se como um abismo, um vácuo. Seguir por ali equivale a mergulhar no nada, na morte, e o medo impele-te a evitar esse lugar que te aterroriza e onde te perdes de ti mesmo. E, no entanto, é precisamente isso que precisas de fazer para poderes usar as tuas asas e conseguires voar a alturas que antes desconhecias. Lilith habita nesse precipício, ela é a guardiã desse limiar que separa o chão conhecido do céu inimaginável e está lá para nos ajudar a chegar à nossa mais profunda verdade. Sempre que nos confrontamos com uma situação limite, seja esta física ou emocional, abeiramo-nos do precipício e encontramo-nos com Lilith. Ela seduz-nos e chama-nos a mergulhar nesse vácuo, como uma sereia, para depois, quando não podemos mais escapar, nos devolver a projeção de todas nossas imperfeições, todos os nossos defeitos, tudo o que não aceitamos em nós e que o nosso ego escolhe manter na sombra. E é esta não aceitação que é a nossa perdição. São o temor e a dúvida que nos impedem de confiarmos nas nossas asas, porque no fundo nos sabemos imperfeitos e não acreditamos que possamos voar. Enquanto não reconhecermos este nosso lado selvagem e primitivo, enquanto não tivermos a coragem de olhar para a sombra que nos persegue pelo simples facto de sermos matéria, corpo e densidade, olharemos para Lilith e para o seu precipício como uma ameaça. A Lua Negra tanto pode ser o nosso Inferno quanto o nosso Céu. Para ir ao seu encontro, precisamos de nos despir de tudo o que são convenções sociais, culturais e morais e isto é o mais difícil de fazer. Aceitar a nossa nudez, a nossa carne, as nossas fraquezas, as nossas pulsões e, principalmente, a nossa mortalidade. Este é o caminho que nos leva a confiarmos que somos mais do que aquilo que nos permitimos conhecer e a conseguirmos ir mais além. Mas esta passagem não é feita através de uma decisão mental ou sequer vinda das emoções. Esta passagem acontece no âmago do nosso ser, num sítio dentro de nós que fica para lá do ego. Naquele lugar profundo onde estão o instinto e a intuição, aquele lugar onde escondemos o animal que ainda somos e onde nos ligamos à Natureza de uma forma primordial, sem máscaras nem artifícios. Esta passagem é feita de cada vez que enfrentamos a nossa fera, de cada vez que, olhando-a nos olhos, temos a coragem de seguir em frente. De cada vez que conhecemos um bocadinho da nossa escuridão e ousamos confiar nela, porque a sua força é a nossa força. Lilith é a destruidora do ego, do ego que se serve a si mesmo e espera que todas as partes de nós o sirvam a ele, mas que, no entanto, não manda nada, porque na realidade quem está por trás da maioria das nossas decisões são os nossos medos. Ela é a destruidora do ego que mantém os nossos monstros fora da nossa vista e nos faz acreditar que somos civilizados, respeitadores, amáveis, justos e boas pessoas. Lilith provoca-nos ao ponto de perdermos a noção que temos de nós próprios para nos mostrar que, apesar de todo o verniz, continuamos a pertencer à Terra, iguais a todos os seus outros filhos. Enquanto a Lua Branca é a Mãe que nos dá a vida, a Lua Negra é a Mãe que nos dá a morte. Mas é apenas a morte do ego que ela reclama. Se isso for para nós um fim, um vazio, e insistirmos em nos defendermos e em nos protegermos, o que a Lua Negra nos traz são precisamente esses monstros que tememos e que nos aterrorizam. Se, pelo contrário, cada célula do nosso corpo confiar que para lá daquilo a que nos habituámos a reconhecer como a nossa identidade há uma outra vida, se conseguirmos deixar para trás os filtros através dos quais o ego tenta controlar a existência, então poderemos alcançar a manifestação mais pura da nossa essência. A casa e o signo onde Lilith se encontra no nosso mapa e os planetas que estejam em conjunção ou oposição apertada com este ponto começam por ser vividos em negação, manifestando o seu lado sombra nas nossas vidas. Seja através de atitudes compulsivas e “fora de carácter”, vindas de um instinto de sobrevivência primitivo e profundo que, por momentos, escapou ao controlo do superego. Seja através da sua projecção nos outros, cujos comportamentos reprovamos e condenamos. Ao tomarmos consciência dos fragmentos que exilámos de nós mesmos, começamos a poder expressar a força e o poder que Lilith promete a quem se entrega à vida despido de filtros e de máscaras, apenas com a coragem, a confiança e o amor de saber que a vida É sempre que nós Somos.
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A lunação anterior foi propícia para impulsionar e potencializar objectivos. Trouxe-nos a garra e o pragmatismo necessários para focar as ideias da cabeça e lançá-las no mundo real. A Lua Nova de hoje traz o prenúncio das mudanças que se avizinham a longo prazo. Hoje, terça-feira, dia 15, às 12h47, em Lisboa, e às 8h47, horário de Brasília, a Lua aninha-se com o Sol aos 24° de Touro, signo do elemento Terra e do modo fixo. Touro é o conforto de um abraço, o cheiro do pão quente a sair do forno e as conversas cantadas dos pássaros. Touro gosta de tempo, gosta de sentir o ritmo lento da terra e sensação de tranquilidade e segurança que experimentamos quando caminhamos descalços sobre a relva fresca. E esta lunação podia ser sobre isto. Só que não… Poucas horas depois da Lua Nova, Urano, o planeta das revoluções, entra também em Touro para desencadear mudanças de fundo em todos os assuntos simbolizados por este signo. Urano ainda volta a Carneiro em Novembro para ingressar definitivamente em Touro em Março de 2019, onde ficará então até 2025. Estes primeiros meses da sua estadia em terras taurinas, até ao próximo Outono, e particularmente esta lunação, dão-nos uma perspectiva do que serão os próximos anos e de que forma a nossa vida vai ser revolucionada. A nível social, a entrada de Urano em Touro vem revolucionar a banca e o dinheiro, a agricultura e a alimentação, a propriedade e a habitação, a relação com o corpo físico e a nossa atitude perante os recursos naturais. As inovações tecnológicas serão um dos motores propulsores de alguns destes avanços e as soluções da robótica e da inteligência artificial que hoje em dia ainda estão em fase experimental ou apenas ao alcance de muito poucos pelo seu elevado custo de produção tornar-se-ão mais populares e mais presentes nas nossas vidas. Outra motivação para a mudança vai ser o impulso para nos aproximarmos da terra, fazendo uma transição para um modo de vida mais simples, mais natural e mais enraizado, com a tecnologia a ter um papel auxiliar, mas sem se substituir à natureza. Mas as transições de Urano não são tranquilas nem suaves, elas começam com o desmoronamento das antigas estruturas, daquilo que está cristalizado e que bloqueia o nosso desenvolvimento. Isto provoca caos e confusão, os avanços acontecem aos solavancos e com saltos repentinos e nós sentimos que perdemos o chão. Tudo isto é especialmente difícil para a energia de Touro, que valoriza a segurança e quer preservar o sossego e a paz, no entanto, esta perturbação momentânea é apenas o início do processo. Se nos permitirmos largar as velhas seguranças e os velhos valores iremos perceber mais à frente que o lugar aonde chegámos é mais espaçoso e proporciona-nos uma maior liberdade de movimentos. Amanhã, quarta-feira, outro movimento nos céus confirma o ambiente de mudança. Marte, a nossa espada, sai de Capricórnio e inicia a sua marcha por Aquário. Assim que entra neste signo ele fecha uma quadratura exacta precisamente com Urano. Aquário tem afinidade com Urano, pois este é o seu regente moderno, e esta quadratura, que já se tem feito sentir nos últimos dias, vem acelerar pequenas mudanças iniciais. Por um lado, podemos fazer cortes radicais e libertar-nos de obrigações caducas e responsabilidades obsoletas que já não fazem mais sentido nas nossas vidas. Por outro, estamos também mais impulsivos e imprudentes e isto faz com que os acidentes aconteçam, as coisas se estraguem e a pessoas se magoem. Assim, somos empurrados a encontrar novas soluções para lidar com as questões mais práticas da vida. E a ideia é essa, sair dos limites dos caminhos conhecidos e procurar novos recursos que nos ajudem a resolver os problemas de formas diferentes e inovadoras. É que, se olharmos bem, até os problemas que queremos resolver já não são os mesmos de antes. O território da Lua Nova deste mês, Touro, é a casa de Vénus, que se encontra em Gémeos quase sem comunicar com nenhum dos outros planetas, a não ser um sextil ainda muito fraco que se começa a formar com Urano. Vénus está também fora dos limites, ou seja numa declinação bastante alta, fora do caminho estabelecido pelo Sol. Talvez haja momentos em que nos apetece virar as costas, fingir que nada disto nos diz respeito e ocuparmo-nos com temas mais leves. Mas esta atitude não vai resolver os problemas, pelo contrário, só vai servir para aumentar a insatisfação interior e as tensões externas. Podemos aproveitar esta energia errante e insubmissa para perceber por qual lado queremos começar a virar a mesa. Lua e Sol entendem-se por trígono com os poderosos Marte e Plutão e recebem deles a vontade e a força para materializar o futuro que já vamos antevendo desde o início do ano. Mercúrio em Touro harmoniza-se com Saturno em Capricórnio e recebe deste o apoio e a estrutura que nos ajuda a lidar com os imprevistos que a conjunção com Urano trouxe às tarefas quotidianas. Não é preciso resolver tudo hoje, mas é importante manter a calma para não deixar pontas soltas pelo caminho. Desde Escorpião, Júpiter, que amplia o que toca, entende-se com o etéreo e transcendente Neptuno, que está em Peixes, numa canção sem palavras. Os dois cantam uma música que nos desperta para a nossa verdade interior e que nos alinha com o sentimento colectivo. Se estivermos atentos, conseguimos ouvir essa melodia suave, mas intensa e clara na sua mensagem: não existimos sozinhos e o mal que fazemos aos outros, aos animais, ao planeta, fazemos a nós mesmos. O nosso propósito apenas faz sentido se servir também uma missão colectiva e quanto mais abrangentes e mais inclusivas forem as nossas intenções, mais facilmente poderemos navegar estes tempos agitados. Nas próximas semanas começas a ver pequenos exemplos das mudanças que aí vêm. Podes potenciar o seu crescimento e a sua continuidade alinhando os teus objectivos ao responder a algumas perguntas: Qual o valor que dou realmente à área de vida onde estão os 24° de Touro no meu mapa? Como imagino a minha vida daqui a oito anos? Como posso simplificar o meu dia-a-dia e gerir os meus recursos de forma a ter mais tempo para o que me dá prazer? Como é que a tecnologia me pode ajudar com isso? Aquilo que valorizo é benéfico apenas para um grupo de pessoas ou é benéfico para todos? A vida está em mutação e nós com ela, mas não podemos perder o chão. Podemos aprender com as árvores que deixam os seus ramos seguirem a direcção do vento enquanto as suas raízes se mantêm firmes. E se, em algum momento, sentirmos que não temos chão debaixo dos nossos pés, então procuramos outro chão, mais interno, mais autêntico e mais simples. O tempo é de futuro e o futuro sustenta-se nos passos que damos no presente. |
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