Às vezes apercebo-me que a questão da espiritualidade é vista por algumas pessoas como uma espécie de escada, uns estão uns degraus abaixo, outros uns degraus acima, mas será mesmo assim? Será que existem “níveis” de espiritualidade? Assumindo que sim, quem será mais evoluído? O que vai para África em missão, ou o que ajuda uma família carenciada no seu bairro? O paramédico que todos os dias está pronto para salvar vidas, ou aquele que doa medula óssea, sangue, ou um rim? O que faz voluntariado com animais abandonados, ou o vegan? Existem causas mais evoluídas que outras? Obviamente, não existe apenas uma resposta certa. Todas estas pessoas estão de alguma forma a contribuir genuína e espontaneamente para um bem comum e para algo maior do que elas próprias. A nossa essência, a nossa expressão mais verdadeira, é representada no mapa astrológico pelo Sol. Assim como esta estrela é o centro do nosso sistema solar, também o Sol no nosso mapa natal é o centro da nossa personalidade. Ele é a força criativa de onde tudo emana, a luz que nos ilumina, o eixo da nossa consciência. O seu símbolo na Astrologia é um círculo com um ponto no centro, representando a unidade como o ponto de partida para o todo. O Sol simboliza também o espírito, a chama divina que cada um de nós traz dentro de si. A nossa missão é fazê-la brilhar o mais possível, permitindo que ela ilumine tudo e todos à sua volta. Acredito que a Humanidade, enquanto colectivo, tem um caminho de crescimento e evolução que, eventualmente, nos levará de regresso a casa. Esse caminho é feito de todos os pequenos passos que cada um de nós, individualmente, dá em direcção ao seu próprio Sol, à sua própria essência. É neste movimento para dentro que inevitavelmente nos viramos também para fora, para o todo, deixando o nosso espírito e nossa essência transparecer para o Mundo inteiro. Servindo algo maior do que nós, fazemos a integração do nosso propósito individual com o propósito de toda a Humanidade. Sempre que caminhamos, umas vezes o pé esquerdo está à frente, mas logo a seguir está o direito, pois os dois são necessários para avançar. Da mesma forma, todos somos necessários para fazer este caminho. Assim como o Sol tudo ilumina sem nada discriminar e sem nada julgar, talvez a verdadeira espiritualidade seja a plena consciência de tudo e de todos, os mais e os menos “espirituais”, que é, em última instância, a plena consciência de todas as partes de nós próprios.
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Na noite de domingo para segunda-feira, de 27 para 28 de Setembro, a Senhora Lua e o Senhor Sol encontram-se frente a frente e reconhecem-se, mas desta vez a Terra intromete-se entre os dois, provocando o eclipse lunar e lançando uma sombra vermelha sobre a Mãe Lua. A Lua Cheia ocorre às 3h52 de 28 de Setembro em Lisboa e às 23h52 do dia 27 em Brasília a 4° de Carneiro e 5 minutos antes é precisamente o ponto alto do eclipse. A ocultação total terá a duração de cerca de uma hora e pouco e será visível tanto em Portugal como no Brasil. Assim, esta Lua Cheia é especial por ser um eclipse lunar, ou uma Lua de Sangue, e ainda porque nesta noite a Lua se encontra no perigeu da sua órbita, o ponto em que ela fica mais próxima do nosso planeta, tornando-a maior do que o habitual. Uma Lua Cheia traz à luz do dia intenções e desejos latentes, ela confronta-nos com as consequências dos nossos actos e aquilo que foi semeado está agora pronto a ser colhido. É também um relacionamento entre a Lua, que simboliza o inconsciente e o que foi, e o Sol, que simboliza a consciência e devir. Por isso um eclipse lunar é, essencialmente, uma oportunidade para cortar o cordão umbilical, largar emoções antigas e padrões desgastados que já não nos pertencem e seguir em frente, em direcção a uma nova forma de estar, de ser e de se relacionar, mais leve e mais adequada com a essência de cada um. A Lua encontra-se conjunta à Cauda do Dragão em Carneiro, o signo da individualidade e da iniciativa autónoma, e o Sol está conjunto à Cabeça do Dragão no signo oposto, Balança, dos relacionamentos e do equilíbrio. Aqui já encontramos o tema deste eclipse, eu e o outro, o eixo dos relacionamentos. O regente deste eclipse, o impulsivo Marte, encontra-se mesmo no início de Virgem e torna esta Lua guerreira e fortemente emocional mais atenta ao detalhe e mais crítica. Marte forma uma quadratura ainda bastante forte ao rígido Saturno e já começa a opor-se a Neptuno, que lhe dilui a iniciativa e dissipa a energia, acentuando a sua insatisfação e frustração. A Lua em Carneiro, rápida e instintiva, forma ainda um trígono a Saturno em Sagitário, que segura os seus repentes e até a apoia, desde que ela cumpra o compromisso com a sua verdade. Em oposição, o Sol em Balança e conjunto a Mercúrio retrógrado no mesmo signo leva-nos olhar para o outro e a rever princípios, atitudes e acções que dificultam as relações justas e harmoniosas, mas também abre espaço para mal-entendidos e palavras não ditas. O Sol, significador da nossa consciência, está também conjunto à Lua Negra, Lilith, a antítese da Lua, a força bruta dos vendavais e a fúria das tempestades. Assim, de um lado do eixo nodal, e como foco do eclipse, está a Lua em Carneiro que é desafiada a deixar para trás a sua necessidade infantil de afirmação e de independência. Do outro lado, o Sol em Balança acompanhado pela selvagem Lilith, que só permite uma consciência alinhada com a nossa verdadeira natureza, por muito insubordinada que ela pareça aos outros e por muito que ela ofenda as regras sociais. Aparentemente afastada de tudo isto, está Vénus, a princesa que recebe o Sol, Mercúrio, o Nodo Norte e a Feiticeira Negra, em Leão e em recepção mútua com o Rei, uma troca directa que favorece o brilho da nossa identidade dentro dos relacionamentos. Vénus ainda recebe as influências benéficas e libertadoras de Urano que acentuam a vivência da autonomia, da verdade e da diferença na relações com os outros, sejam elas uniões duradouras ou apenas encontros fugazes. Júpiter, expansivo e orientador, no signo da prática Virgem mantém a sua oposição a Neptuno, senhor da fantasia e do devaneio, no igualmente sonhador signo de Peixes e põe as nossas ilusões em confronto com valores mais pragmáticos e terrenos do dia-a-dia. Uma coisa é a utopia do relacionamento idealizado, outra bem diferente é o relacionamento possível, mas real e concreto. O trígono que Júpiter começa a formar com Plutão vai ajudar a reformular e a reciclar princípios éticos e morais de forma a abrir espaço para a tolerância e para a humildade, valores que nos tornam menos autocentrados e mais disponíveis para os outros Durante este eclipse vamos ver os nossos relacionamentos a serem esticados como um elástico e a servirem-nos de espelho para olharmos o nosso lado mais impulsivo, mais primitivo e mais cru, mas também o nosso lado mais honesto, mais genuíno e mais livre. Se conseguirmos perceber a diferença entre individualismo e autonomia, entre indiferença e liberdade e entre agressividade e honestidade, se estivermos preparados para nos mostrarmos nus e despidos de definições e de máscaras sociais, estaremos prontos para viver os nossos relacionamentos de uma forma mais justa, mais verdadeira e mais pura. Esta Lua Vermelha vai ser forte, intensa e disruptiva e até pode demorar algumas semanas ou meses a trazer resultados, mas vai servir como um catalisador para um grande salto em frente no nosso crescimento pessoal. (Tema proposto no âmbito do curso Autobiografia Criativa) A primeira coisa em que pensei quando li o tema foi em Kali, a deusa hindu. Mas, aparentemente, Kali não tem nada a ver com a maternidade. Kali é a deusa da morte e da destruição, ela mata tudo o que é mau, ruim e pernicioso para que haja espaço para o novo, o fresco e o bom. Ela é, se quisermos, um “mal necessário”. Lembro-me que quando a conheci, já não me lembro bem como, me identifiquei imediatamente com Kali. Gostei da deusa forte e poderosa que exerce o seu poder de forma radical e assertiva. Gostei da ideia da destruição que não é gratuita e cega, mas que tem o propósito de abrir espaço, de limpar. Acho que a palavra certa é “purgar”. Mas o que é que Kali tem a ver com a maternidade? A maternidade de Kali é ao contrário, inversa à outra maternidade, ela não tem o poder da criação, o seu poder é o da destruição. Kali é toda força e não pede licença. Logo a seguir identifico a minha mãe, sempre lhe reconheci uma grande força. Mas não é a minha mãe que é Kali. A mãe Kali sou eu. E agora ocorre-me se, com esta identificação, não estou eu também a destruir esse outro poder em mim, se não estou a eliminar as questões da maternidade, da gestação e da vivência de um feminino mais produtivo, do feminino da abundância e da fertilidade. Mas será que não posso viver os dois papéis como mulher? Ser uma força destruidora e ser uma força criadora, alternando entre estes dois estados, num constante processo de auto-renovação e auto-reinvenção. Talvez seja esta a minha forma de dar à luz. A Morte e a Imperatriz, no Tarot. O Escorpião e o Touro, na Astrologia. E percebo que estou a dar à luz de mim própria, morrendo e renascendo, ciclicamente. 24 de Maio de 2015 (Este mês traz-nos dois eclipses e muita coisa para digerir, por isso vou escrever dois artigos: este, sobre a Lua Nova e o eclipse solar, e um outro, na altura da Lua Cheia e eclipse lunar.) No próximo domingo, o encontro da Lua com o Sol no signo de Virgem é também um eclipse solar, a Lua irá esconder parcialmente o brilho do Sol. A Lua Nova acontece aos 20° daquele signo às 7h42 de Lisboa, 3h42 de Brasília, e 12 minutos depois é o ponto máximo desse eclipse. Esta Lua Nova e respectivo eclipse vêm tocar no temas de Virgem, a mente analítica e prática, a nossa capacidade de organização e de funcionar no dia-a-dia. Virgem tem também um lado ansioso e inquieto, sempre preocupado com todos os pequenos detalhes, mas perdendo facilmente de vista a visão geral e o objectivo maior. Um eclipse solar traz consigo acontecimentos inesperados que, ao tocarem em algum ponto importante do nosso mapa natal, acabam por, de alguma forma, marcar a nossa vida. O eclipse é uma união entre a Grande Mãe e o Rei-Sol durante a qual ela se sobrepõe a ele, escondendo o visível e o consciente solar com o seu manto lunar de sombra e de instinto, revelando o nosso lado mais cru. É um momento de tensão, a luz torna-se difusa e opaca, o céu escurece e a natureza confunde-se porque é noite, mas deveria ser dia e tudo fica virado do avesso. Racionalmente sabemos explicar o que se passa, mas quem já vivenciou um eclipse solar no meio da natureza conhece a intensidade que ele carrega. Este eclipse e a sua Lua Nova vêm realmente carregados de tensão, com os dois luminares a formarem um quincúncio ao insólito Urano e uma oposição ao curador Quíron, ambos com uma orbe bastante fechada. Os esquemas mentais e as pequenas tarefas nos quais nos apoiamos para funcionarmos no nosso quotidiano vão perder o chão. Por um lado, a ligação a Urano, o planeta do caos, em Carneiro, vai trazer uma grande dose de imprevistos, surpresas e até alguns choques e acidentes, originando instabilidade e irritação. Virgem não acha muita graça a mudanças súbitas, mas o melhor mesmo talvez seja descontrair, ter na manga um plano B e, sobretudo, permanecer flexível e adaptável. Para sublinhar este cenário, Mercúrio, que recebe o nobre casal na sua humilde casa, entra retrógrado no dia 17, em Balança, oposto a Urano e em quadratura ao devastador Plutão. Combinações, compromissos e contractos vão estar minados de surpresas e armadilhas, o que se diz pode não ser o que se queria dizer, o que é ouvido não é necessariamente o que foi dito e a confusão vai andar no ar. Por outro lado, o frente-a-frente com Quíron em Peixes vem despertar feridas antigas e confrontar-nos com o nosso sofrimento, mas principalmente com o sofrimento que projectamos nos outros e com a nossa incapacidade de lidar com a dor, mas também com a nossa incapacidade de salvar toda a gente que acreditamos que precisa de ajuda. Júpiter em Virgem faz uma oposição já bastante apertada a Neptuno, o planeta da sensibilidade, do escapismo e da transcendência, em Peixes e acentua este ambiente nebuloso e propício para a fuga. A integração destes pólos é feita trazendo para o quotidiano de Virgem, das rotinas e dos hábitos, a nossa própria verdade e a nossa própria visão jupiteriana da vida, mantendo os olhos em cada pequeno passo e fazendo a cada dia aquilo que realmente nos importa. Sempre que Neptuno pedir uma inspiração, sempre que precisarmos de um sentido, só temos que fechar os olhos e olhar para aquele ponto dentro de nós que é a porta para o Universo inteiro, para o oceano infinito de Peixes, porque é sempre aí que vamos encontrar o nosso caminho. Logo, voltamos a olhar para o chão que pisamos e continuamos a dar os passos que, um a seguir ao outro, nos levarão ao ideal que, para já, nos parece encontrar-se num infinito longínquo e inalcançável. Na semana seguinte, Saturno deixa o intenso signo de Escorpião para entrar em Sagitário no dia 18 e muda o pano de fundo dos temas pesados e subterrâneos dos pântanos de Escorpião para questões mais elevadas como a fé, a nossa verdade interior, a expansão de horizontes e a abertura ao novo. Estes temas irão ser testados ao longo dos próximos dois anos pelo Senhor do Tempo e vamos poder avaliar a maturidade com que assumimos aquilo em que acreditamos e a responsabilidade com que levantamos a nossa bandeira. Vamos poder também perceber que a liberdade e a tolerância estão enraizadas num compromisso de crescimento pessoal e que só têm lugar quando os medos inconscientes e a necessidade de controlar, que vêm da vibração mais baixa de Escorpião, foram purgados e deram lugar à cura e à regeneração. Dias mais tarde, a 23 deste mês, o nosso Sol sai de Virgem para fazer a sua visita anual a Balança, e o nosso olhar levanta, deixa o chão e passa a focar-se em quem vem ao nosso lado. Depois das férias, pensávamos que íamos regressar à rotina, mas a rotina trocou-nos as voltas e mudou-nos os planos. Vão ser duas semanas de surpresas, sobressaltos e incertezas. Apontar o dedo e fazer críticas ou julgamentos ou fecharmo-nos na nossa fantasia de como o mundo deveria ser não nos leva a lado nenhum. Precisamos de respirar fundo, aceitar o que é e fazer apenas o que é possível naquele momento, sempre alinhados com a nossa vontade, trazendo para cada gesto a nossa inspiração maior, até chegarmos o nosso sonho. A vida está a mudar. E tu? Estás a mudar com ela? |
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