A diferença, o sentimento de inadequação e a procura do nosso grupo são os temas deste conto e correspondem às energias de Saturno e Aquário e também de Urano. A história do Patinho Feio, que é sempre posto à margem, mas que no fim encontra a sua “turma”, é tão arquetípica que o seu título é usado como expressão na linguagem corrente para definir alguém que é excluído pelos seus pares. Escrito por Hans Christian Andersen em 1842, O Patinho Feio é visto como a mais autobiográfica das suas obras. Andersen tinha o Sol natal oposto a Saturno e a Urano, a expressão do seu espírito original e inovador era recebida, especialmente no início da sua carreira, com estranheza e desaprovação pela sociedade.
A história começa numa quinta onde tudo vibra com a força do Verão. Ainda antes de nascer já o nosso pequeno herói se distingue dos seus irmãos, ele é o maior ovo do ninho. Assim que sai do ovo esta diferença acentua-se, ele é nitidamente maior que os outros patinhos e tem a cobri-lo uma penugem cinzenta, tornando-o bem mais desengraçado que os seus manos pequeninos e amarelinhos. A diferença do Patinho Feio é-nos transmitida através do contraste com os seus irmãos, mas também com o próprio ambiente da quinta. Andersen descreve-nos toda a atmosfera do pico do Verão, que corresponde ao signo de Leão no hemisfério Norte, o signo oposto a Aquário, o auge do Inverno. O primeiro orgulha-se de ser especial enquanto o segundo valoriza a pluralidade e a noção de “todos diferentes, todos iguais”.
As pessoas com energia de Aquário muito presente no seu tema natal normalmente destacam-se de alguma forma do ambiente onde crescem, às vezes são apenas mais altas, outras vezes têm alguma marca ou característica que as distingue das outras do meio onde crescem. Estas características podem gerar situações de discriminação e exclusão. A diferença deste patinho causa choque e perturbação por onde quer que ele passe e o que lhe é devolvido pelo seu meio familiar e social é a rejeição. Os outros animais agridem-no, os irmãos insultam-no e até a mãe pata deseja que ele nunca tivesse nascido.
A originalidade de Aquário e a natureza insólita e disruptiva de Urano são percepcionadas pelo status quo (por Capricórnio) como uma ameaça e o colectivo encontra sempre forma de segregar e discriminar os “patinhos feios”, que ousam ser, pensar ou agir “fora da caixa”, fora das expectativas que os outros e a sociedade em geral têm para eles. O sentimento de não-pertença, especialmente forte com o Sol e/ou a Lua em Aquário ou a fazer aspecto a Urano, gera uma grande insatisfação e uma sensação de solidão e de afastamento, como se fossem ETs e não pertencessem a este planeta, mas também uma grande necessidade de espaço e de liberdade. Assim, o distanciamento e a autonomia são tão característicos desta energia como a importância que dão à amizade e ao colectivo.
O patinho cinzento, cansado de ser desprezado e humilhado, abandona a quinta e começa a vaguear sozinho pela vida à procura de uma “família” que o aceite e de um lugar onde se sinta feliz. Na sua busca o patinho encontra diversas comunidades, mas a sua aparência incomum é sempre notada onde quer que ele vá. A certa altura chega a uma casa muito pobre onde vive uma velhota, um gato e uma galinha. Seria de esperar que esta família tão improvável, onde cada um tem características tão distintas, o aceitasse. Mas o gato e a galinha acham o seu pequeno colectivo muito melhor que o resto do mundo e cedo o patinho percebeu que não havia espaço para os seus ideais e anseios. A sua ambição de apanhar sol e voltar a nadar num lago era recebida com desdém pela galinha e pelo gato.
O Patinho Feio, por Galina Makaveeva (1987)
Neste episódio encontramos o lado negro de Aquário, que tanto pode ser inclusivo e abraçar a diferença, como fechar-se na sua superioridade intelectual e elitista. Aquário é um signo do elemento Ar e do modo fixo, procura consolidar e preservar conceitos racionais e abstractos, tornando-se às vezes demasiado rígido, inflexível e intransigente ao nível mental e social – e aqui percebemos onde Saturno, o regente tradicional de Aquário, e Urano se tocam. Assim, o nosso Patinho Feio continua a sentir-se incompreendido e desencaixado de tudo e de todos e mais uma vez parte sozinho pelo mundo.
Quando chega Outono o patinho vê pela primeira vez umas aves graciosas, brancas, com pescoços longos e elegantes e sente com elas uma ligação imediata e uma estranha identificação, descobrindo emoções que até aí desconhecia. Mas o nosso protagonista ainda não está preparado para se juntar aos cisnes, há uma aprendizagem muito importante que este patinho precisa de fazer. No conto de Andersen, esta jornada, solitária e difícil, é representada pelo Inverno, que chega frio e implacável – como os aquarianos às vezes também conseguem ser, lembremo-nos que Saturno rege Aquário. Mas é também em situações de fragilidade e carência que a solidariedade e a cooperação, algumas das qualidades mais positivas de Aquário, são testadas. Apesar dos seus esforços para sobreviver, o Patinho Feio acaba por congelar nas águas do lago. Uma manhã, um camponês encontra o patinho, parte o gelo e leva-o para sua casa e para a sua família, recordando-nos deste lado solidário, fraterno e humanista.
Mas o hábito da solidão e do afastamento tornaram o nosso herói numa criatura inadaptada e desajeitada e quando as crianças tentam brincar com ele, o patinho foge com medo e logo se cria o caos e a confusão. Este comportamento desadequado e inconveniente não é incomum em pessoas com energia de Aquário ou Urano forte no seu mapa. Muitas vezes dizem ou fazem qualquer coisa que para os outros é completamente descontextualizada e chocante, umas vezes com o propósito intencional de chocar, outras porque entendem que algumas regras e convenções sociais estão tão bolorentas e fora de prazo e que não têm qualquer pudor em ultrapassá-las. De qualquer forma trazem sempre consigo esta energia desestabilizadora e extravagante, sendo reconhecidos como rebeldes e revolucionários.
O Patinho Feio foge para o campo e passa o Inverno com muita dificuldade. Mas finalmente chega a Primavera, indicando-nos que o ciclo está prestes a completar-se, e com ela todas as aves que tinham migrado à procura de paragens mais amenas para passar o Inverno. O patinho reconhece os cisnes que tinha visto no Outono e sente-se mais uma vez atraído pela sua beleza e elegância, mas com a dor da não-pertença e da segregação tão marcada, ele acredita que mais uma vez vai sofrer as consequências de se tentar incluir. Mesmo assim prefere arriscar e vai encontro dessas aves magníficas, preparando-se para o pior. Ao baixar a cabeça, vê o seu reflexo na água e percebe que ele próprio já não é um patinho feio e desengonçado, mas um lindo e esbelto cisne.
Depois de ter conhecido a discriminação e a exclusão social, o Patinho tem que passar pelo processo representado pelo Inverno, olhar para dentro, aceitando a dor da sua solidão e reconhecendo a sua diferença como aquilo que o distingue e individualiza. Agora sim, ele está pronto para encontrar finalmente o seu grupo, a sua comunidade, aquela que o aceita e que o acolhe tal e qual como ele é. Apesar de ser um caminho muitas vezes incompreendido e solitário, esta é a grande lição de Aquário, ganhar consciência do que faz de si (e do outro) o original em vez da fotocópia e aceitar e incluir essa diferença, porque existe espaço para a liberdade de todos, dentro e fora da caixa.