Para o signo de Leão foi inevitável escolher a história do Imperador que, cego de vaidade e orgulho, recusa a verdade e é desmascarado pela inocência de uma criança. Este conto foi escrito por Hans Christian Andersen e publicado em 1837, juntamente com A Sereiazinha e outros contos. O autor conta que se inspirou numa narrativa publicada em 1335 no Libro de los ejemplos, uma colectânea espanhola de contos tradicionais. No entanto, foi a versão do escritor dinamarquês que popularizou a história, ao ponto de o título alternativo em português, O Rei Vai Nu, se ter tornado uma expressão idiomática.
O conto começa por descrever-nos a sua personagem central, um Imperador tão vaidoso que era mais preocupado em escolher as suas indumentárias do que em cuidar dos seus deveres como soberano da nação. Leão, que pertence ao elemento Fogo, é um signo extrovertido e muito expressivo, ele gosta de se mostrar e de ser visto. O seu regente é o Sol, que simboliza reis, monarcas e chefes de estado em geral, pois eles são a figura mais visível e até mesmo a imagem de uma nação. Este Imperador encarna bem o lado sombra desta energia, a vaidade, o orgulho e a ostentação, com a sua ocupação predileta, exibir os seu trajes novos em paradas oficiais.
Um dia chegam à cidade dois homens que dizem ser tecelões, mas o tecido que sai dos seus teares é muito especial, não só é espantosamente belo, como também é mágico, ele tem a particularidade de ser invisível a todas as pessoas que sejam inaptas para os cargos que ocupam ou incrivelmente estúpidas. O Imperador logo decide mandar fazer um fato novo com este tecido fantástico para assim descobrir quem à sua volta seria indigno de exercer a sua função. Ele contrata imediatamente os dois impostores e põe à sua disposição todos os meios para que eles possam proceder à tecelagem do maravilhoso pano sem mais demoras. Mas nos teares não se vê nada, nem mesmo quando parece que os dois homens trabalham incansavelmente, agitando os braços e as mãos como se passassem os fios de um lado para o outro.
Ao longo do processo de tecelagem o monarca, duvidando das suas próprias capacidades, envia dois funcionários da sua mais alta confiança para inspeccionar a impressionante obra. De cada uma das visitas, os homens cedem ao seu próprio orgulho e, questionando a sua aptidão e a sua inteligência, não admitem que aquilo que vêem à sua frente são apenas dois teares vazios, e regressam ao seu rei com o relato imaginado das maravilhas que teriam visto. Finalmente, e depois de tanto ouvir falar no deslumbrante tecido, o Imperador decide ir ele próprio admirar o tão assombroso trabalho dos tecelões. Obviamente, quando chega à oficina é confrontado com a mesma visão que os seus funcionários, mas logo decide que ninguém saberá das suas limitações e fraquezas. Estes farsantes conhecem bem a natureza de Leão e aproveitam as suas debilidades, o orgulho, a presunção e a necessidade de reconhecimento exterior, personificadas pelo Imperador e pelos seus representantes, para levar a cabo o seu plano. Durante a narrativa, Andersen vai permitindo que o tecido invisível invada também a nossa imaginação, como se o trabalho estivesse realmente a ser executado na nossa fantasia, crescendo com cada adjectivo e com cada palavra de admiração. Apesar de estar consciente do embuste, o leitor é enredado na encenação dos farsantes e a mentira ostensiva, por ser tão maior e tão mais deslumbrante que a realidade, torna-se também mais irresistível. A criatividade é uma das melhores qualidades de Leão, mas, quando é usada através da insegurança e do medo, em vez de nos engrandecer e de ajudar a nossa auto-expressão, ela afasta-nos da verdade e serve apenas para alimentar um ego falso e vazio, como os teares dos dois burlões. A farsa continua, estimulada e ampliada pelo o orgulho e pela a vaidade de cada pessoa que admira o tecido inexistente, e os burlões enriquecem com o considerável salário pago pelo Imperador e com os fios de seda e ouro que nunca chegam aos teares. O gosto pela riqueza e pelo luxo é uma das características de Leão, mas também o são a generosidade e a benevolência, e o soberano não se inibe de recompensar grandiosamente os extraordinários artesãos. Finalmente, chega o dia em que o rei vai exibir o seu novo traje, confeccionado com o maravilhoso pano. Com ainda mais um pouco de imaginação e criatividade, os impostores convencem o soberano e a sua comitiva que o material por eles produzido tem características tão prodigiosas e tão sublimes, que se torna tão leve como o ar e, por isso, não se sente em contacto com a pele.
O Fato Novo do Imperador, por Edmund Dulac (1911)
Assim vestido, apenas e tão somente de ar, o Imperador sai para o cortejo e as pessoas que assistem a este espectáculo, não querendo que ninguém saiba da sua incapacidade de ver o tecido e, consequentemente, da sua incompetência ou ignorância, todas elogiam a beleza e a perfeição das suas vestes. Como que envoltos numa histeria colectiva, todos seguem o exemplo do seu governante e a cidade inteira ecoa a vaidade e o orgulho do Imperador, mas também o seu medo do ridículo e a sua falta de confiança nas suas capacidades. O Sol, o astro que rege Leão, é uma fonte de luz para tudo o que o rodeia e é, simbolicamente, um exemplo para quem está à sua volta. Assim é também este monarca, que é seguido no seu orgulho cego pelos seus súbditos. No meio do burburinho da multidão ouve-se uma voz de criança “O rei vai nu!” e, lentamente, outras vozes se vão levantando até que todos constatam o óbvio: o rei vai nu. O Imperador, depois desta evidente e indiscutível exposição da sua nudez, que são afinal as fragilidades e as fraquezas de todos nós, faz aquilo que qualquer Leão faria, levanta ainda mais o queixo e continua a sua parada com toda a dignidade, nobreza e solenidade exigidas pela ocasião. A espontaneidade e a transparência da criança, que não questiona a sua verdade e a expressa sem filtros e sem receios, funcionam como catalisador para a libertação da mentira colectiva e expõem o Imperador no seu maior medo, o do ridículo, de fazer má figura, de ficar aquém. No fim do conto é a criança o herói genuíno e o verdadeiro exemplo das qualidades mais nobres de Leão, a sinceridade e a expressão natural e pura daquilo que o nosso coração sabe ser a verdade. Leão é especial, não porque ele é o mais belo ou o mais exuberante, não porque ele precisa da atenção e do reconhecimento do mundo, mas porque ele é uma luz e um modelo sempre que a sua expressão é espontânea, alegre e generosa. Então sim, ele é um centro de vitalidade para a sua comunidade, como o coração o é para o corpo e o Sol para os planetas. Um herói, que, enfrentando corajosamente os seus medos e as suas inseguranças, aprende a acreditar, de dentro para fora, na sua própria luz e, ao fazê-lo, ensina também os outros a brilhar.
"O Fato Novo do Imperador", de Hans Christian Andersen