O rodopio do mês passado trouxe mudanças repentinas e imprevisíveis, mas, com tanta movimentação, tivemos dificuldade em perceber o seu sentido e a sua direcção. Agora o carrossel começa a abrandar, a poeira vai assentando e a paisagem à nossa volta surge mais clara e mais definida. Estamos definitivamente num lugar novo e diferente tanto a nível colectivo como individual. Mas será que esta nova realidade já nos é confortável? Ou será que ainda estamos confundidos a acreditar que nada mudou e sentimo-nos ameaçados quando percebemos que ao nosso redor tudo está fora do sítio? Na próxima segunda-feira, dia 4, tem lugar a Lua Nova de Caranguejo, exactamente aos 12°53’ deste signo. Pelas 12h01 em Portugal, 8h01 no Brasil, Sol e Lua aconchegam-se em casa da última e Vénus e Mercúrio também são convidados para esta reunião de família. Signo de água e cardinal, Caranguejo é o início dos sentimentos, aqui ganhamos a noção de pertença afectiva e vivemos a experiência do colo protector e do apego ao passado e às raízes. Com os luminares e ainda dois planetas pessoais neste signo, o foco desta lunação são precisamente as questões de segurança emocional. Mercúrio, o planeta da comunicação e da lógica, acompanha de perto as duas luzes e a comunicação torna-se mais gentil e carinhosa, mais vulnerável e ligada aos afectos. Em Caranguejo a energia deste astro fica introvertida, intuitiva e susceptível, mas podemos confundir imaginação com realidade e percepção com intenção. A memória sobrepõe-se aos factos actuais e é preciso ter cuidado com os melindres e com os amuos. Mais à frente, mas ainda suficientemente perto do rei e da rainha, está Vénus, que aqui valoriza o passado e a família e acentua a nossa necessidade de nos protegermos e de nos sentirmos protegidos nos relacionamentos mais próximos. Este grupo opõe-se ao denso Plutão em Capricórnio, que traz alguma intensidade para a nossa procura conforto e segurança e para a nossa fome de protecção e colo. Esta influência pode tornar a necessidade de chão emocional numa atitude demasiado defensiva e fechada, com a nostalgia e o medo a tomarem conta, desconfiando de tudo o que nos parece estranho e diferente. Assim, fica dificultado o trabalho de reconhecimento deste território onde agora precisamos de fazer a nossa casa. No entanto, se estivermos centrados e confiantes, Plutão vem acrescentar uma sensação de empoderamento e uma dimensão de desapego em relação ao passado que já não volta e dá-nos a coragem para viver o presente. Esta Lua Nova vem também a activar a quadratura entre o rígido Saturno em Sagitário e o etéreo Neptuno em Peixes, o aspecto tenso que serve de pano de fundo ao ano de 2016. A inflexibilidade das nossas crenças é toldada pelo nevoeiro da nossa subjectividade, olhamos para o mundo de uma forma pessimista e desesperançada e procuramos um salvador que nos aponte uma saída fácil e que nos desresponsabilize desta realidade criada por nós mesmos. Sol e Lua não vêm atiçar uma relação já de si difícil, bem pelo contrário, eles vêm ajustar e apaziguar estas energias em conflito. O quincúncio que os dois fazem a Saturno pede-nos que para revermos e actualizarmos os nossos princípios éticos e os nossos valores morais. Dogmas e verdades absolutas limitam-nos e impedem o nosso crescimento, o enquadramento de ontem revela-se obsoleto à luz das últimas mudanças. Por isso é necessário adaptar as nossas convicções à realidade, sem medos, sem ilusões, mas com o coração cheio de optimismo e esperança. O casal luminoso faz ainda um lindo trígono a Neptuno, activando harmoniosamente a sua quadratura com Saturno e oferecendo-nos a resposta a este desentendimento. Não é fora de nós que vamos encontrar a saída milagrosa, não há um guru, um professor, um mestre, um líder político ou religioso que nos possa salvar. E não há porque estamos todos em igualdade de circunstâncias, ninguém sabe mais sobre o meu caminho do que eu e eu não sei nada sobre o caminho dos outros. É olhando para dentro, procurando em nós aquele lugar de empatia, de compaixão e de aceitação que podemos reconhecer que afinal estamos todos no mesmo barco. E só avançamos enquanto colectivo quando cada um assumir a sua quota-parte da responsabilidade, quando cada um se sentir verdadeiramente em casa onde quer que esteja, quando cada um olhar para o seu próximo como se de família se tratasse. Porque é isso mesmo que ele é, família. Mas isto não quer dizer que tenhamos de continuar a viver relações tóxicas, que nos prendem ao passado e nos inibem a individualidade. A acompanhar estes movimentos, Marte, que retornou ao seu movimento directo há poucos dias, faz um quincúncio apertado com o independente Urano em Carneiro e um simpático trígono com Vénus em Caranguejo, interferindo na disputa entre estes dois. O determinado guerreiro deixou-nos bem nítido e definido quais os laços que devem ser largados porque não nos alimentam mais e quais os que merecem ser mimados porque nos cuidam e nos protegem enquanto, simultaneamente, nos fazem avançar e nos permitem ser autênticos. Durante o próximo mês o tema vai ser o lar, a família e os afectos, quer a nível pessoal, quer a nível colectivo, onde as famílias são as nações. Quem é a minha nova família afectiva? Em que colos me encontro? Que corações eu protejo? Podemos escolher entrincheirar-nos no medo e resistir às mudanças que acontecem inexoráveis à nossa volta, defendendo o que sempre conhecemos contra todas as evidências do seu fim. Ou podemos escolher habitar com verdade e compaixão o mundo que nos protege e nos alimenta, começando de dentro para fora, de mim para os outros, do meu pequeno lar para toda humanidade. Só assim estaremos sempre prontos para receber os outros no nosso colo e para sermos recebidos por eles.
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