As novidades e as mudanças trazidas pela última lunação estão em andamento e já não há volta atrás. No entanto, ainda somos visitados por alguns fantasmas do passado que insistem em reabrir a ferida que ainda dói, para não nos esquecermos de a limpar e de fazer mais um curativo. É no sábado dia 17, às 13h11 de Lisboa, 10h11 de Brasília, que a Lua encontra o Sol aos 26° de Peixes, o último signo do zodíaco. Em Peixes estamos especialmente sensíveis e vulneráveis. As nossas fronteiras emocionais e psíquicas diluem-se e não estamos a lidar apenas com o nosso inconsciente, mas também com o inconsciente de quem nos rodeia e, de uma forma mais ampla, com o inconsciente colectivo. Este mês o oceano de Peixes agita-se e o mar salgado queima o que ainda está em carne viva. Estamos demasiado prontos a proteger-nos de perigos que podem ou não ser reais, mas que nos empurram para uma aprendizagem que só pode ser feita à força. Lua e Sol estão perto de Quíron, tão perto que o sábio curador vai fazer-nos olhar para o sofrimento que ainda persiste. Sejam feridas recentes, feridas da infância ou feridas ancestrais – e não estão todas ligadas, ainda que por fios invisíveis? – algum acontecimento vem lembrar-nos que elas ainda ali estão, à espera de mais uma dose de entendimento e de aceitação que nos faça suportar a dor e que nos ajude a torná-la útil, se não a nós mesmos, então a outros. O que, para Peixes, acaba por ir dar ao mesmo. Quase, quase a sair de Sagitário, Marte, a nossa agressividade e capacidade de luta, está em tensão com a Lua Nova e deixa-nos reactivos. Tudo nos parece uma ameaça e isto aumenta a irritabilidade, a instabilidade e a volatilidade do momento. A tensão cresce e a zanga deixa de caber no peito e precisa de ser extravasada. Temos, sim, o direito à revolta e à indignação. As emoções, especialmente as desconfortáveis, são impulsos para a mudança e para o crescimento e é importante recebê-las e aceitá-las antes de poder seguir em frente – para poder seguir em frente. Há cortes, decisões e escolhas que nos são cobrados e que não podem mais ser adiados, mesmo que isso implique sacrifícios. E por isso é tão urgente reagir, para não cairmos na impotência e no lamento vazio e para conseguirmos tornar este sofrimento produtivo e purificador. Marte, a lâmina que faz o corte necessário, harmoniza-se com Urano no fim de Carneiro e este empresta-lhe a frieza de um golpe único, seco e repentino. O corte pode vir de fora, de onde menos esperamos, ou de dentro, surpreendendo-nos a nós mesmos com o desprendimento e a capacidade de iniciativa. Mas mais do que tudo, a decisão que for feita revelar-se-á libertadora e criativa, com o potencial de nos mostrar de uma forma clara e definida aquilo antes apenas adivinhávamos. Em Escorpião e a fazer um trígono aos luminares, está Júpiter, a lembrar-nos que o que arde cura e que, para impedir que as feridas infectem e nos causem danos maiores, é necessário, de tempos em tempos, abri-las e limpá-las. Júpiter mostra-nos também onde se acumula a porcaria que nos está a intoxicar, de forma a sermos cirúrgicos e incisivos no tratamento. Isto facilita o trabalho, mas nem por isso o torna mais suave. A Lua Nova em Peixes vem como curandeira para nos ajudar a libertar o que nos pesa. Há angústias que carregamos que necessitam ganhar um novo sentido, necessitam ser transformadas em sabedoria, em medicina que pode ser usada connosco, com aqueles com quem nos cruzamos ou a um nível mais colectivo, se nos identificarmos com uma causa ou com uma missão. Mas é preciso voltar a mexer onde dói, abrir a ferida e lavá-la com álcool. É preciso fazer sacrifícios e aceitar as nossas dores, não para nos resignarmos ao sofrimento, mas para o libertar e para o usarmos como força propulsora de uma realidade mais clara e mais transparente.
7 Comentários
De respeito, sim. Homens e mulheres, todos temos direito a respeito igual. Ah e tal… isso é óbvio! Não, não é. Apesar de tantos direitos já conquistados para as mulheres e pelas mulheres, o respeito está longe de ser uma realidade. Muitas mulheres ainda entendem que não vale a pena denunciar situações de abuso porque acreditam que não vão ser respeitadas. Elas sabem que ao fazê-lo vão ser postas em causa e vão prolongar o mesmo abuso que queriam denunciar e do qual gostariam de se proteger. Seja num círculo mais privado, seja ao nível das instituições privadas e governamentais, há ainda um silenciamento e uma relativização das queixas das mulheres e da violência sobre as mulheres. Por sua vez, isto permite que uma cultura de inferiorização, de violentação e de humilhação, nas suas várias dimensões, se perpetue. Mas o que fazer para cultivar o respeito e contrariar o silêncio que alimenta a permissibilidade do desrespeito e do abuso sobre as mulheres? Aqui ficam algumas ideias para os homens, para as mulheres, para as autoridades e para a sociedade em geral, com o propósito de incentivar a comunicação de forma a que as mulheres se sintam seguras em dar voz às suas queixas quando são vítimas de algum tipo de assédio, abuso ou violência. Escutar É realmente importante saber ouvir quando alguém partilha uma situação em que se sentiu vulnerável e desprotegida ou injustiçada. Podemos fazer perguntas para perceber como a pessoa se sentiu, sem ser invasivos e pondo o foco na percepção da pessoa. Saber escutar é também validar as emoções do outro. Mesmo que eu não reaja da mesma maneira numa situação semelhante, eu posso entender as suas reacções e a sua sensibilidade. Não julgar Ninguém pede para ser desrespeitada ou abusada. Ninguém. Se partimos do princípio que a culpa está do lado de quem foi assediada ou violentada, não só estamos a proteger o agressor e a permitir outras agressões, como estamos a pôr em causa direitos fundamentais de todos, nomeadamente o direito à segurança e o direito à integridade física e moral. E não, a roupa que alguém tem vestida não tem nada a ver com o respeito que lhe é devido! Não relativizar ou minimizar Comentários como “deves ter entendido mal” ou “fulano estava só a tentar seduzir” ou ainda “deves andar por lugares duvidosos” põem em causa a capacidade de discernimento e de julgamento de quem já se sente invadida. A confusão, a existir, está do lado de quem não entende regras sociais básicas e tem dificuldade em reconhecer os limites pessoais dos outros. “If it feels wrong, it is wrong.” Se te sentes mal, está mal. Pôr-se em causa Algumas vezes, os homens, e também mulheres, têm tendência a inconscientemente proteger o abusador simplesmente porque se identificam com a posição confortável de não serem postos em causa. Este é um privilégio que a sociedade, de forma implícita, ainda dá aos homens, e, às vezes, também às mulheres que “seguem as regras”, e que pode ser imperceptível para quem dele usufrui. Então ponham-se em causa, perguntem-se se em alguma situação já abusaram da confiança que alguém vos deu, se já foram insistentes com alguém para além do aceitável. Sermos capazes de reconhecer os nossos erros não faz de nós pessoas más, mas é sinal de humildade e de crescimento. Não querer ouvir a história do outro para não perder uma posição que nos protege de lidar com o sofrimento, mesmo que alheio, dificulta a empatia e impede a mudança de mentalidades. Apoiar Podemos também ainda apoiar perguntando simplesmente “Como posso ajudar? O que precisas de mim?” Pode ser como companhia para ir ao médico, pode ser como testemunha abonatória, pode ser partilhando uma história semelhante para que a pessoa não se sinta sozinha, pode ser dando o contacto de um terapeuta, pode ser oferecendo apoio moral para fazer uma queixa oficial, se for caso disso. Pode ser de muitas formas e cada um, em cada momento vai saber encontrar a mais correcta. Apoiar é não silenciar uma mulher porque “se calhar não foi bem assim” ou “talvez tenhas entendido mal”. Apoiar é ouvir e não permitir que um pedido de ajuda, uma queixa ou uma denúncia caiam no silêncio. Apoiar é reconhecer a verdade do outro, a dor do outro e respeitar a sua voz. Em resumo… na dúvida, acreditem na palavra da mulher que está à vossa frente. Respeitem o que ela tem para dizer. Respeitem a sua vulnerabilidade, respeitem a sua zanga, respeitem a sua voz. Respeitem-na. |
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