Há uns dias li um texto de uma amiga que falava sobre escolhas e sobre a inevitabilidade de fazermos aquilo que nos é “preciso, necessário e vital.” Lembrei-me que, há uns meses, quando me perguntaram porque é que eu me tornei astróloga, eu respondi “não tive escolha”, foi um caminho que, por muito que eu tivesse resistido, se mostrou inevitável. No desenvolvimento pessoal é consensual que sermos quem verdadeiramente somos e expressar o nosso eu mais genuíno é o caminho para a felicidade. No entanto, nem sempre essa manifestação de autenticidade é aceite pela nossa sociedade, especialmente se tocar num dos grandes tabus, a sexualidade e as questões de género. Sexualidade, papel social de género, identidade de género e sexo biológico não acabam na definição binária masculino/ feminino. A vida e os nossos comportamentos não são assim tão a preto e branco, tão lineares. Não é linear a sexualidade, apesar de, cada vez mais, a sociedade se abrir à aceitação de comportamentos que se afastam da “norma”, como a homossexualidade, a bissexualidade e todo o arco-íris de possibilidades que existe na expressão saudável e ecológica do nosso lado sexual. Não é linear o papel social de género – durante o século passado o movimento feminista conquistou para as mulheres muito espaço que antes a sociedade reservava aos homens. Acredito também que, aos poucos, os homens vão começando a “invadir” o território feminino, assumindo tarefas domésticas e profissões tradicionalmente reservadas às mulheres. Não é linear a identidade de género – Laerte, cartunista brasileira, Eddie Izzard, actor e humorista de stand-up, ou ainda Chaz Bono, filho de Cher e Sonny Bono, são exemplos de diferentes vivências da transgeneridade. Não é linear o sexo biológico – o número de bebés que nascem com ambiguidade sexual é cerca de um em cada cem, bem maior do que a atitude da sociedade em relação a esta questão nos faria supor. Nada disto é linear, mas vivemos ainda num sistema social que insiste em organizar-se segundo um padrão polarizado, que dá liberdade de expressão aos comportamentos que consegue rotular e mantém à margem tudo o que seja diferente, desigual e dissonante. Em Astrologia, Urano rege tudo o que foge à norma, tudo o que fica fora da caixa, fora das classificações, os mutantes e os rebeldes, os revolucionários e os radicais e, desde 2011 e até 2019, este planeta está a passar pelo signo de Carneiro, o signo da afirmação e da individualidade. Este trânsito facilita e promove a expressão da verdade individual, a libertação corajosa e assertiva dos nossos medos e bloqueios, não apenas a nível pessoal, saindo do armário e confrontando família, amigos ou colegas, mas especialmente enquanto colectivo, abrindo-nos para comportamentos e formas de estar mais abrangentes e coloridos do que uma visão a preto e branco da vida. Acredito que os tempos que correm estão a trazer grandes avanços e transformações sociais a este nível. Dois exemplos rápidos: dos dezasseis países que reconhecem legalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, oito fizeram-no entre 2010 e o ano passado; a Argentina reconhece legalmente um terceiro género desde 2012 e a Alemanha e a Índia desde 2013. Espero que os próximos anos tragam ainda mais progresso nestas áreas e que comportamentos hoje considerados chocantes e aberrantes se tornem tão normais e aceitáveis como a heterossexualidade e a família “tradicional” – entre muitas aspas, porque sempre existiram muito mais modelos de família do que apenas aquele que entendemos como tradição. A propósito de como se começou a vestir de forma feminina, Laerte diz “o meu movimento inicial é uma necessidade, um desejo, uma vontade que se torna cada dia mais evidente”. Eu não escolhi ser astróloga e a minha amiga não escolheu ser fotógrafa, mas temos a liberdade de manifestar aquilo que somos, através da forma que nos é mais natural e inata, para mim as metáforas e o simbolismo, para ela a construção da imagem. Da mesma forma, outras pessoas não escolhem a sua sexualidade, ou o género com que se identificam, ou o corpo ambíguo com que nascem, no entanto, são forçadas a negar aquilo que são, para caberem nos modelos socialmente disponíveis, masculino ou feminino. Às vezes, mais vezes do que pensamos, a expressão verdadeira daquilo que somos passa pela vivência da nossa sexualidade, ou do nosso género e não cabe numa letra, M, F, ou LGBT. Às vezes, mais vezes do que pensamos, ter a liberdade de não ter escolha, mas de apenas ser quem realmente somos é o único caminho para sermos felizes, não só a nível individual, mas, essencialmente, a nível colectivo.
0 Comentários
A entrada do Sol no signo de Carneiro, seguido por Mercúrio e Vénus, deixou para trás o ambiente difuso e imprevisível do excesso de modo mutável e da energia de Peixes e trouxe-nos mais foco e mais iniciativa. Carneiro é o primeiro signo do zodíaco e representa o vigor e o impulso necessários a qualquer começo. Também as luas novas nos falam de começos e por isso a Lua Nova de amanhã, quinta-feira dia 7, precisamente às 12:25, hora de Portugal, e às 8:25 no Brasil, naquele signo, é tão propícia a abrir novas portas e novos caminhos. O encontro da Rainha celeste com o seu Rei dá-se este mês num clima de Fogo, com realce para os signos Carneiro e de Sagitário, duas energias de muita acção e dinamismo. Tanto um como outro olham para a frente, Áries foca-se no futuro imediato e o centauro perspectiva um horizonte mais longínquo, mas ambos seguem em frente com entusiasmo e coragem. Muito perto da Lua Nova, numa conjunção apertada, está Urano, o planeta das mudanças rápidas e radicais, por isso é bem provável que apareçam oportunidades repentinas e inesperadas que nos propulsionam para sermos mais pioneiros e destemidos e que nos oferecem oportunidades para testarmos novas soluções e formas de agir diferentes do nosso habitual. O denso Plutão ameaça a renovação proposta nesta lunação, instigando o medo do desconhecido e o apego ao controlo e às antigas estruturas. Mas isto não é nada de novo, afinal nos últimos anos vivemos todos sob a quadratura de Urano a Plutão, que nos lançou um tsunami de transformações inexoráveis e nos deixou as vidas mais limpas e mais autênticas. A quadratura entre estes dois gigantes, apesar de estar já a desfazer-se, é activada mais uma vez por esta Lua Nova e podemos aproveitar esta oportunidade para perceber se quebrámos realmente com todas as cristalizações, prisões e medos que nos separam da nossa verdade ou se há ainda algo que precisamos de deixar para trás, algum padrão emocional que nos passou desapercebido e que volta a surgir com os acontecimentos imprevistos destes dias. Quem escolher seguir em frente, em direcção ao novo e quiser abrir mais espaço dentro de si para o entusiasmo e a audácia, tem esse movimento facilitado pelo mestre Saturno em Sagitário. Este planeta oferece estrutura e disciplina para tudo aquilo que temos estado a iniciar nos últimos meses, mas também para todos os inícios que quisermos convidar neste momento para as nossas vidas. O corajoso Marte, que recebe a união da casal real no seu signo, também se encontra em Sagitário e aproxima-se de Saturno. É importante tomar atenção à tendência para alguma intransigência ao nível dos nossos princípios morais ou standards de perfeição minar a confiança exigida neste passo. Isto porque o par Marte/ Saturno está em quadratura T à oposição de Júpiter em Virgem com Neptuno em Peixes. No entanto, Marte é acalentado pela simpatia de Vénus, que lhe pisca o olho desde em Carneiro. Fiquemos na nossa verdade, sim, mas sem sermos invasivos ou dogmáticos, apenas com humildade e amor. A minha verdade é apenas a minha verdade. O ambiente ígneo desta Lua Nova afasta-nos da confusão e desorientação do último mês e deixa-nos mais animados e mais decididos para seguirmos adiante, olhando para o futuro que queremos construir, com a consciência de que “o que foi não volta a ser”. Confiantes, cheios de coragem e centrados na nossa autenticidade, podemos começar a dar forma e sustentação aos inícios que já se começam a desenhar nas nossas vidas, por muito estranhos e inusitados que eles nos pareçam. "A felicidade consiste em dar passos na direcção de si próprio e ver o que se é." Há uns dias, numa conversa com um amigo, perguntei-lhe se ele era feliz. Apesar da resposta que me deu ser irrelevante para este post, o importante foi perceber que a palavra “felicidade” tinha sentidos diferentes para nós os dois e isto deixou-me a pensar no que é afinal a felicidade. A primeira coisa com que me deparei foi com a armadilha de nos convencermos de que prazer é felicidade. Diariamente, na televisão, na rua e até os amigos e a nossa própria família garantem-nos que se sentirmos prazer seremos felizes. Porém, esta ideia é ilusória e perigosa. O prazer, ainda que nos proporcione um bem-estar instantâneo, é efémero e depende de algo exterior a nós próprios, uma coisa, uma pessoa, um acontecimento que não nos pertence e que não nos pode garantir o bem-estar a longo prazo, muito pelo contrário. O prazer é apenas o contrário da dor e, enquanto pensamos que estamos de um lado deste eixo, estamos inevitavelmente a experienciar também o outro. O bem-estar verdadeiro e a consequente felicidade vem de dentro de nós, da nossa própria essência. Ele acontece, quando somos fiéis a nós próprios, quando o que somos está alinhado com o que pensamos, com o que sentimos e com o que fazemos. Mais do que um momento fugaz, ou sequer uma meta, é um caminho que decidimos fazer. No entanto, na maioria das vezes, não é fácil seguir este trilho, há sempre uma parte de nós (na melhor das hipóteses, apenas uma) que está em desarmonia com as outras e que nos bloqueia e nos impede de ver o acesso ao que nos faz sentir verdadeiramente bem e vamo-nos perdendo e afastando cada vez mais da nossa rota. Entender estas incoerências, estes conflitos e o porquê de nos separarmos de nós mesmos ao longo da vida é essencial para começarmos a olhar todas as personagens que nos habitam. Quais delas entram conflito e não se aceitam umas às outras? De que lado é que nos colocamos, com que personagens nos identificamos e quais as que rejeitamos e fazemos por esconder? Quando trazemos para a consciência as respostas a estas questões, estamos prontos para começar a fazer o caminho da felicidade. A Astrologia é uma fantástica ferramenta que nos mostra de forma clara as ligações entre cada uma das nossas facetas e que nos ajuda a desenrolar o fio de Ariadne do nosso labirinto pessoal. A Astrologia não dá felicidade, mas dá-nos o mapa para lá chegar, pois, ao mostrar-nos todas as partes de nós próprios, ao mostrar-nos inteiros, possibilita-nos iniciar o caminho para o centro de nós mesmos, onde somos um só, onde encontramos a felicidade. |
Apoiar o meu trabalho:
Categorias
Tudo
Arquivo
Maio 2024
|