Logo a seguir ao ciclo diário, o ciclo mensal da Lua é o mais fácil e imediatamente observável nos céus. Todos os meses podemos assistir às mudanças da Lua: como ela fica invisível e vai crescendo até, passadas duas semanas, se tornar redonda e cheia, partilhando connosco a luz que recebe do Sol, para depois voltar a diminuir até se tornar novamente oculta sob os raios solares. Desde a força das marés ao ciclo menstrual das mulheres, a Lua rege os fluídos da Terra e marca o ritmo de vários processos orgânicos. O ciclo lunar é a interacção entre a Lua e o Sol do ponto de vista da Terra, é chamado mês sinódico e dura cerca de 29 dias. Estes dois astros, não sendo os únicos na análise de um mapa natal, são os mais importantes. Eles definem a nossa essência, aquilo que é mais intrínseco ao nosso ser. A Lua é o nosso instinto e o nosso passado, é a matéria que toma forma, o inconsciente que se vem conhecer. Ela é a Grande Mãe, o colo primordial e a rainha da noite, ela exerce a sua força sobre o que é oculto e mutável. O Sol é o nosso potencial de realização, o devir, o espírito que anima a matéria, o consciente que se conhece a si mesmo. O astro-rei é o Herói mitológico, o centro do Self, a objectividade e a constância, ele rege a nossa vontade e a nossa força vital. Em Astrologia, os dois são chamados de luminares, pois ambos iluminam a Terra: o Sol durante o dia, quando os seus raios incidem sobre a nossa metade do planeta; e a Lua quando, pela noite, reflecte a luz que recebe do Sol. Esta dança entre os dois luminares é dividida em quatro grandes fases: a Lua Nova, o Quarto Crescente, a Lua Cheia e o Quarto Minguante. O princípio implícito a cada uma destas fases é análogo a todos os outros ciclos: a Lua Nova corresponde à meia-noite no ciclo diário, ao solstício de Inverno, a noite mais longa do ano, e ao momento zero de todos os acontecimentos; o Quarto Crescente seria o nascer do dia, o equinócio da Primavera e todas as etapas de crescimento e desenvolvimento; a Lua Cheia é o meio-dia, o solstício de Verão, o auge anual da luz, e o momento de culminação e de força de cada processo; segue-se o Quarto Minguante, o pôr-do-sol, o equinócio do Outono e o período de assimilação e entendimento da experiência. Dane Rudhyar identifica a primeira metade deste ciclo, desde a Lua Nova até à Lua Cheia, como um período de actividade instintiva. O propósito deste hemiciclo é o fortalecimento e definição da forma. Na segunda metade, da Lua Cheia à Lua Nova, depois de alcançado o auge do crescimento, quando já somos aquilo que podemos conhecer, o trabalho é ao nível da consciência, do sentido e do significado do acontecimento. Esta estrutura simbólica aplica-se a todos os ciclos e à nossa própria experiência enquanto seres humanos, tanto no plano individual como no plano colectivo. De uma forma mais prática, podemos usar as fases lunares na análise de um mapa natal – a relação Lua/ Sol no momento do nascimento dá muita informação sobre a personalidade –, como técnica biográfica nas progressões secundárias, ou simplesmente no dia-a-dia, com intenção para estimular uma fase específica de algum processo a decorrer nas nossas vidas. É sempre importante analisar as casas do mapa natal onde se encontram a Lua e o Sol e levar em conta os planetas natais que são tocados pelos dois astros para entender quais os temas da nossa vida que estão a ser influenciados pela lunação, seja esta por trânsito ou por progressão secundária. A Lua Nova Este é o momento da conjunção, quando a posição dos dois astros relativamente à Terra é coincidente. A Lua fica acima do horizonte durante o dia, mas oculta sob os raios do Sol. Esta fase é de inconsciência e subjectividade, o ponto de fecundação e tem implícita a natureza da semente que vai crescer durante as semanas seguintes. É aqui que começa o processo e tudo é pleno potencial. As pessoas nascidas nesta fase são mais criativas, muito intuitivas e auto-suficientes. Elas têm um mundo interior muito rico e encontram as suas referências dentro si próprios. Esta Lua protege os inícios e todos os processos que pedem intuição, criatividade ou secretismo e é uma boa altura para implementar mudanças. Podemos semear intenções que se irão realizar na Lua Cheia seguinte. O Quarto Crescente Nesta fase, a Lua fica visível a Ocidente no início da noite, ela faz quadratura ao Sol e está à frente dele no zodíaco. É uma etapa de crescimento, na qual o impulso é feito para fora, em direcção ao que é exterior a nós, mas este movimento também gera alguma instabilidade e crise. Quem nasceu nesta fase procura definir-se em relação ao que está fora de si, são pessoas dinâmicas e insatisfeitas, que vivem o esforço permanente de se libertarem do passado. Agora é o momento para intensificar tudo o que queremos que cresça e que aumente. É também uma boa altura para tornar visível um projecto ou uma criação, ou ainda para termos uma conversa aberta e honesta com alguém, pois tudo o que estava escondido vai começar a vir à superfície. A Lua Cheia Quando a Lua se opõe ao Sol e este a ilumina com os seus raios, ela começa o seu espectáculo a nascente, logo após o pôr-do-sol, e segue aclarando toda a noite com a sua luz difusa e indefinida. Esta é a fase de realização do potencial implícito na Lua Nova, o ponto de maior visibilidade e o início do segundo hemiciclo, da consciência e do significado. Quando os dois luminares fazem oposição no mapa natal, a pessoa tem mais tendência para se relacionar, para procurar o outro e as experiências fora de si como motores de auto-conhecimento, mas também pode ser um pouco dependente ou indecisa. Nesta fase iremos colher os frutos daquilo que plantámos na Lua Nova. Este momento favorece a visibilidade e a popularidade e é uma boa altura para festas, inaugurações ou qualquer outro evento pontual mas que se quer memorável. Os instintos também estão mais à flor da pele e tudo o que for feito agora terá mais força e impacto. O Quarto Minguante A Lua faz novamente quadratura ao Sol, mas agora ela encontra-se atrás deste na ordem do zodíaco. Ela nasce à meia-noite e por isso é visível no céu nocturno apenas durante a madrugada. Este é um período de enfraquecimento e finalização, mas também de revisão e desconstrução de estruturas, crenças e ideologias. As pessoas com os luminares em quadratura minguante no seu mapa vivem o processo de voltar a si mesma através do desapego daquilo que lhes é supérfluo e exterior a si próprias. Estão favorecidas todas as acções que têm como intenção fechar ciclos, limpar algo que ficou por resolver. Podemos também aproveitar esta fase para actividades que exijam introspecção, pesquisa e sigilo ou para o planeamento do ciclo seguinte. Publicado no Jornal da ASPAS com o título "Ciclo de Lunação - O reflexo de todos os ciclos", edição Outubro a Dezembro 2015
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Depois de enfrentarmos uma montanha escarpada e sombria, que foi a proposta da lunação de Capricórnio, o signo que se segue, Aquário, sugere que fiquemos lá no alto, reconhecendo a vida e as pessoas, a forma como se ligam e interagem, com o desapego de quem conhece o futuro porque sabe que ele está a acontecer agora. Na próxima segunda-feira, dia 8 de Fevereiro, o Sol e a Lua têm o seu encontro combinado precisamente no signo de Aquário. O electrizante acontecimento terá lugar aos 19° desse signo, pelas 14h40, hora de Portugal, ou 12h40, no Brasil. A Lua Nova no signo do aguadeiro oferece-nos um momento para olharmos para quem somos para lá dos constrangimentos sociais e dos compromissos forçados que assumimos com os outros, para lá da normalização que nos querem impingir e da nossa frustração por haver sempre algo cá dentro que não encaixa nos padrões. O luminoso par é apoiado por dois sextis aos seus anfitriões. De um lado, Urano em Carneiro confirma a urgência da mudança e reforça o impulso para assumirmos a nossa individualidade cada vez mais difícil de esconder. Do outro lado, o mesmo aspecto já largo a Saturno em Sagitário reforça a importância de cada um se responsabilizar pela sua verdade e pela sua visão e expectativas da vida. Os dois incitam esta Lua Nova à aventura, a explorar novas formas de ser e de estar, por muito estranhas e bizarras que possam parecer, importa é que sejam inovadoras e originais. As duas luzes fazem também um quincúncio a Júpiter, o planeta da orientação e da fé, retrógrado em Virgem e conjunto ao Nodo Norte. Qualquer alteração à rota previamente estabelecida, seja inesperada ou simplesmente uma intuição repentina, vai precisar de se adequar ao nosso quotidiano, aos nossos ritmos e vai requerer ajustes e afinações. Mas, para isso, é necessário usarmos a nossa bússola interna, quanto menos olharmos para o caminho dos outros, mais alinhados estaremos com o nosso objectivo final. Marte em Escorpião faz quadratura ao Rei e à Rainha e dificulta-lhes o avanço para novas e insólitas paisagens. O guerreiro está em casa neste signo e a sua determinação e coragem podem levá-lo a lutar até às últimas consequências, seja para preservar o que já possuímos, seja para amputar o que está podre e fétido. Se insistirmos em nos apegar a velhos padrões emocionais e teimarmos em nos agarrar a desejos e paixões vazios, o processo será bem mais doloroso. Se, pelo contrário, tivermos a audácia de cortar pela raiz aquilo que em nós já passou do prazo e já não nos é útil nem nos faz crescer, então a emancipação prometida por Aquário poderá acontecer naturalmente. No signo da estrutura e da ordem vigente, Capricórnio, encontram-se Mercúrio e Vénus que fazem uma conjunção ao denso Plutão, no mesmo signo, e um trígono a Júpiter em Virgem. Pode parecer prático ficar nas velhas rotinas sociais e manter obsoletos compromissos de submissão e poder, mas o futuro não espera por nós. A quadratura que estes dois planetas pessoais, acompanhados por Hades, fazem a Urano avisa-nos que tentar adiar o inevitável só irá trazer surpresas menos felizes e desestabilizadoras, pois estaremos a demitir-nos de escolher o nosso caminho e isso significa que alguém fará a escolha por nós. Antes da Lua Cheia, que acontece a 3° de Virgem no dia 22 de Fevereiro, às 18h21 em Portugal e 16h21, hora do Brasil, Mercúrio e Vénus mudam de Capricórnio para Aquário, dando mais enfâse ao ambiente de excitação e mudança. O ritmo é o de um concerto de jazz. Aproveita para experimentar coisas diferentes e excitantes, para quebrar regras e romper o molde, para brincar com o insólito e com inesperado. Desvia-te do roteiro estabelecido, reinventa o teu percurso e, pelo caminho, descobre o génio loucamente surpreendente que se esconde dentro de ti. Há temas sobre os quais não se fala, existe um certo pudor sempre que são abordados e até algum desconforto. A morte é um desses temas. Temos dificuldade em falar dela e temos dificuldade em aceitá-la como parte do ciclo da vida. Para algo que é tão certo e inexorável, nós fazemos demasiados esforços para a evitar, para a contornar e para a adiar. Quando nos identificamos com o nosso corpo físico e com a nossa personalidade, a morte chega-nos como o fim, o limite da nossa vida a seguir ao qual nada mais existe e onde nós deixamos de existir. Desta forma, vivemos também a morte daqueles que nos são próximos, como um vazio que nunca mais será preenchido e ainda como uma lembrança de que um dia também o nosso tempo acabará. Esta ideia de vazio, o nosso ou aquele deixado pelas pessoas que amamos, é das coisas mais difíceis com que qualquer um de nós irá lidar ao longo da vida e, no entanto, é, em si mesmo, apenas um conceito. Ao aprender Astrologia, encontrei um novo significado para a morte, o significado que nos é proposto pelo signo de Escorpião e pela casa 8 do mapa astrológico. Crise e transformação são outras duas palavras que surgem frequentemente associadas a este signo e a esta casa e elas trazem-nos uma nova dimensão para esta ideia. Mais do que um fim definitivo e eterno, a morte e o vazio que ela deixa são fundamentais para que haja a renovação e continuidade da própria vida. Não é um processo tranquilo – recordo que crise é uma das palavras-chave – mas é um caminho essencial. Para largarmos o apego à matéria, que aprendemos a cultivar em Touro e na casa 2, o signo e casa opostos a Escorpião e à casa 8, é necessário abrirmos a porta que nos leva ao conhecimento do que somos para lá do corpo físico. No entanto, este processo só é possível quando nos permitimos morrer para aquilo que acreditamos que somos, quando o nosso corpo, os nosso traços de personalidade e a nossa bagagem intelectual passam a ser tão nossos quanto a roupa que vestimos – são importantes e devem ser cuidados, mas não são aquilo que somos. Este processo exige-nos a entrega e o desapego do que conhecemos e pede-nos que confiemos em algo que não controlamos, algo que nos transcende. Tudo isto são precisamente as aprendizagens propostas pelo signo de Escorpião e pelas experiências da casa 8. A nossa sociedade perdeu de vista a dimensão espiritual do indivíduo e vive demasiado focada num entendimento materialista da nossa existência. Por isso, temos tanta dificuldade em lidar com a morte. A morte não é uma inconveniência inevitável, nem tem que ser vivida como um vazio completo. Quando alguém que nos é querido morre, é importante reconhecer o vazio deixado pela sua ausência física e é necessário permitirmo-nos aprender a viver um novo ritmo, com novos hábitos e uma nova rotina que não poderá nunca ser igual ao que era antes. No entanto, é igualmente importante honrar a pessoa que partiu e recordar aquilo que deixou connosco, as suas memórias, as suas aprendizagens e os seus afectos, reconhecendo que a sua vida terrena teve uma razão e um propósito na teia maior da nossa existência. Desta forma estamos também a dar sentido à nossa própria vida e à nossa própria morte. A oração de São Francisco de Assis acaba com as palavras “e é morrendo que se vive para a vida eterna”. Todas as doutrinas espirituais reconhecem que a morte não é o fim em si, que existe algo mais para além dela. Na verdade, ela é apenas uma passagem para uma percepção mais alargada de nós mesmos e da própria vida, a percepção da nossa dimensão espiritual. A morte faz parte da vida, assim como a noite faz parte do dia. Entender isto e entender a importância da nossa vida para lá de nós mesmos permite-nos fazer da nossa vida um acto de transcendência. Nós temos um corpo físico e um conjunto de características pessoais, mas somos mais do que isso, somos almas e, ao encontrarmos outras almas, temos a oportunidade de reconhecer que todas somos apenas um único Espírito, uma única Vida, uma única Luz. |
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