![]() Fotografia de Nicola Jovanovic em Unsplash Lua Nova: 28˚ Touro 25’ Lisboa (UTC +1): 19 de Maio de 2023, 16h53 Brasília (UTC -3): 19 de Abril de 2023, 12h5 Sobreviveste aos eclipses? Os céus têm estado densos e assim andamos nós aqui na terra, nesta simetria perfeita entre o que está em cima e o que está em baixo. Espero que, apesar do trabalho que isto tem dado, as tuas definições, arrumações ou limpezas tenham sido tão produtivas quanto as minhas. Agora, ainda a carregarmos o cansaço que sobrou das últimas semanas, chegamos a uma lua nova muito activa, a fazer várias ligações apertadas com outros planetas. Não vou falar de tudo, mas vou analisar o mais importante. Esta lunação começa intensa, carregada de ambição, irritação, precipitação e sede de poder. Mas também vem cheia de força, de oportunidades de crescimento e com muita vontade de fazer as coisas acontecer. Signo de Touro Esta é a primeira Terra, aquela que para e fixa a energia que foi libertada em Carneiro. Touro é terra fértil, arável, é o barro com que construímos as paredes da nossa casa e que moldamos para fazer a tigela onde comemos a sopa. Touro é também paciência e espera. O tempo que demora o pão a levedar, a espera de um bolo que coze no forno e o ritmo da roda do oleiro. No seu limite, a lentidão de Touro também pode tornar-se inércia e resistência à mudança, e o seu foco na estabilidade e na preservação podem transformar-se em teimosia e numa obsessão com a posse de coisas materiais. Mas isto só acontece quando o Touro tem medo de perder o conforto. Além da calma e da capacidade de sustento, outra das qualidades de Touro é a simplicidade. Este signo tem uma admirável habilidade para fazer as coisas da forma mais fluída e básica, sem grandes complicações e sem grande esforço, mas de forma ritmada e constante. Sextil a Marte em Caranguejo O contacto mais forte desta lua nova é com Marte, o planeta da guerra, da afirmação e da força. Temos ao nosso dispor a coragem para defendermos o que é nosso e para avançarmos mais alguns passos na construção do que nos sustenta. Marte oferece-nos também o impulso para seguirmos a nossa paixão e o dinamismo para perseverarmos. De uma forma mais prática, pode ser boa ideia encontrar actividades concretas para que essa energia se possa manifestar, seja através do desporto ou de alguma outra actividade que puxe por nós fisicamente. Marte em Caranguejo em oposição a Plutão em Aquário Mas Marte não está sozinho, ele aproxima-se de uma oposição ao poderoso Plutão, que já está em Aquário. A conversa é tensa, os dois planetas atiçam-se mutuamente e conflitos de poder saltam à superfície, dinâmicas de controlo e manipulação ficam claras e estalam lutas pela sobrevivência. Por outro lado, ou talvez precisamente por tudo isto, a paixão e a coragem aumentam exponencialmente e a capacidade de afirmação fica amplificada. Perdemos o medo de dizer o que queremos e somos capazes de lutar contra invasões e abusos como se a nossa vida dependesse disso. Se calhar até depende. Trígono a Plutão em Aquário Se a lua nova toca num lado da oposição, inevitavelmente, mexe com o outro lado também. O contacto que os luminares têm com Marte é o mesmo que vão ter com Plutão. Ao tentarem acalmar os ânimos entre as duas partes acabam por receber deles o melhor que cada um tem para dar. Se Marte nos oferece a força e a audácia, a Plutão vamos buscar a capacidade de entrega e de transformação. Qualquer que seja a batalha que temos pela frente, o mais importante é usarmos essa coragem para mergulhar fundo naquilo que nos magoa e nos fere. Mais do que ganhar ou perder, a oportunidade deste conflito é trazer-nos o reconhecimento do que nos dá estabilidade, mesmo quando precisamos de nos virar do avesso. Quadratura de Júpiter em Touro à oposição de Marte e Plutão Esta conversa tem mais um participante, o magnânimo Júpiter. Este planeta está fora do alcance do Sol e da Lua, mas tem um papel decisivo no conflito entre Marte e Plutão. Ao contrário dos luminares, que pretendem apenas pôr água na fervura, o planeta do julgamento e da sabedoria quer encontrar uma solução definitiva para este duelo — mesmo que isso signifique escalar o conflito momentaneamente. Esta tensão entre os três planetas tem uma natureza dinâmica e guarda um grande potencial de ambição, de libertação e de conquista. Só não podemos sobrestimar as nossas capacidades ou esquecer que não pode valer tudo para chegarmos aonde queremos. Vénus em Caranguejo A simpática anfitriã desta lua nova, a doce Vénus, está no sensível signo de Caranguejo. Aqui, o seu objectivo é unir o que está separado de forma suave, carinhosa e cuidando do que é delicado. É compreensível que a primeira reacção à luta feia entre Marte e Plutão seja a de apaziguamento e pacificação. Mas Vénus também é dispositora de Júpiter que funciona como árbitro entre aquelas duas energias. Então, talvez seja pertinente lembrar que a resolução do embate entre o deus da guerra e o senhor do submundo precisa de respeitar as nossas emoções e a nossa fragilidade. Ou talvez até mais do que isso, a resolução, qualquer que ela seja, precisa de nos levar ao encontro daquilo que é mais vulnerável em nós e encontrar a resposta que sustenta e protege a nossa fragilidade e a nossa humanidade e, pelo caminho, a humanidade de todas as pessoa. Se não salvar as outras pessoas, como é que me pode salvar a mim? Síntese As próximas semanas vão ser intensas, vamos lidar com dinâmicas de poder, atitudes manipulativas e vamos enfrentar poderes que acreditamos serem bem maiores que nós. Mas o abuso também pode ser internalizado e, por vezes, não é contra uma influência externa que precisamos de nos defender. No geral, esta lunação tem um grande potencial de crescimento, tanto a nível interno quanto de realizações externas, e de nos ajudar a avançar com os nossos projectos e a implementar mudanças positivas e duradouras. Deixo-te algumas perguntas que te podem ajudar a perceber como tirar o melhor partido desta lua nova. De que formas eu desrespeito o meu ritmo e as minhas capacidades? Que oportunidades de crescimento este conflito me oferece? Que princípios guiam a minha acção? Como posso juntar os meus valores à minha ambição? Talvez a mais importante pergunta neste momento seja, O que é para ti o sucesso? A tua visão de sucesso é realista, abrangente e sustentável? Agora pensa no que é necessário fazeres para lá chegar. Que este mês lunar nos traga a coragem e a sabedoria para navegarmos este terreno hostil e conseguirmos ir além dos nossos medos.
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Contexto Esta semana divulguei um Workshop que vou realizar proximamente dedicado a mulheres cis, trans e pessoas designadas mulheres à nascença. O simples acto de ser inclusiva e de usar linguagem apropriada trouxe-me algum ódiozinho gratuito e despropositado. Ser quem eu sou, alinhar as minhas acções às minhas palavras e aos meus ideais, foi chocante para algumas pessoas. Hoje, cansada de responder a cada argumento particularmente, decidi escrever um texto com uma resposta mais abrangente. Feminino O que aquelas mulheres nos comentários do meu post defendem não é, como elas dizem, o “sagrado feminino”. Se a sua real preocupação fosse o Sagrado Feminino, estas mulheres saberiam reconhecê-lo e honrá-lo em cada pessoa, independentemente de essa pessoa ser mulher ou homem, cis ou trans, gay ou hétero, branca ou racializada, com ou sem deficiência. O feminino não é nem nunca foi exclusivo das mulheres. É um arquétipo, uma energia, uma abstracção que é manifestada por qualquer pessoa, de formas múltiplas e diversas. Entender o feminino como uma característica exclusiva das mulheres é limitador, opressor e, acima de tudo, é não saber do que se fala. Ao invocarem a natureza como argumento para esta lógica binária e redutora, apenas demonstram o seu desprezo pela ciência e pela própria natureza, que é fascinantemente complexa e diversa. Feminismo O feminismo, que também está sempre presente nos seus discursos, advoga direitos iguais para mulheres e homens e proclama que a liberdade de umas tem que ser a liberdade de todas. Apesar de, no início do movimento, a interseccionalidade ter sido desconsiderada e até rejeitada, esta noção tem vindo a ganhar cada vez mais espaço dentro do movimento feminista e reflecte a diversidade que, apesar do longo caminho que ainda temos pela frente, está cada vez mais visível e mais representada na vida pública. Mas não é esta a bandeira destas mulheres. Femismo Aquilo que eu vejo ser defendido naqueles comentários, e que vejo no mundo fora da internet em muitos dos grupos de mulheres da “espiritualidadezinha new age”, não é o feminismo, mas uma espécie de femismo, a crença de que as mulheres são superiores aos homens e que defende um regime matriarcal. Ou seja, um espelho do machismo: apenas mais uma forma de oprimir minorias. Aqui, como no patriarcado existe assimetria e exclusão, porque ficam de fora todas as pessoas não-binárias. Aqui, como no patriarcado, faltam o equilíbrio, a equidade, a diversidade e a liberdade. Raiva Quando estas mulheres falam da opressão do patriarcado, nunca falam de opressão colectiva, mas sim da sua opressão individual. Porque a sua luta não é nem nunca foi uma luta de todas. Não é nem nunca foi uma luta pela liberdade e pelos direitos humanos. É tão simplesmente a manifestação de uma raiva alimentada por uma noção de abuso ou injustiça pessoal. Acredito que, enquanto emoção, esta raiva é válida, mas, ao ser manifestada sem uma consciência social e colectiva, torna-se apenas uma réplica da opressão de que elas próprias se dizem vítimas — a vítima torna-se o abusador. Privilégio A liberdade que almejam não é um valor colectivo, mas apenas a ambição egoísta de um privilégio pessoal. Querem o poder que invejam nos homens, mantendo o seu privilégio branco e heteronormativo, mas não a verdadeira liberdade, que emancipa todas as pessoas e promove a sua autonomia e autodeterminação. Esta ideia de privilégio branco e heteronormativo perpassa todo discurso destas mulheres e é evidente nos seus grupos, onde raramente há espaço para a interseccionalidade. Neste contexto exclusivo e segregador, a vitimização passa a ser usada como arma de opressão de outras minorias, como se fosse necessário eliminar todas as pessoas que com elas “competem” pelo papel de vítima. Medo Gloria Steinem disse numa entrevista que “a polarização de papéis de género era um indicador de violência em sociedades tribais”. Acredito que esta atitude de vitimização vem de um lugar de medo e de escassez, um lugar onde é necessário competir pelo poder e por um lugar no topo da hierarquia social, porque não se acredita que haja espaço suficiente para todas as pessoas. A violência passiva implícita na manipulação da condição de vítima é uma estratégia típica das mulheres brancas (das quais eu não me excluo) e conhecida nos meios racializados como “white woman tears”. Diversidade Todos estes argumentos, vitimização, libertação da mulher do patriarcardo, feminismo, a natureza (ou biologia) e o “sagrado feminino”, são usados de forma perversa e esvaziados do seu verdadeiro sentido. Estas mulheres usam-nos levianamente e com um entendimento binário e, por isso, limitado da vida. O dois é apenas um conceito que vem depois da unidade e antes da multiplicidade. A vida e as pessoas não se esgotam nessa superficialidade. Pelo contrário, a vida e as pessoas são muito mais maravilhosamente complexas e diversas. Nota: Comentários que promovam a discriminação e opressão de minorias vulneráveis serão apagados. Não tenho mais energia para gerir abusos.
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