Na quarta-feira de cinzas, dia 6 de Março, a Lua esconde-se nos braços do Sol para iniciarem os dois a última lunação deste ano astrológico. Mais precisamente às 16h03, hora de Portugal Continental, 13h03, hora de Brasília, os dois astros juntam-se aos 15° de Peixes, o último e o mais imaterial e intangível dos signos do zodíaco. Nas águas mutáveis de Peixes tudo é possível, todas as fantasias são reais, todas as emoções são sentidas simultaneamente e todas as palavras são ditas em silêncio. Os dois luminares estão mesmo, mesmo juntinhos a Neptuno, o senhor do nevoeiro e da ilusão, o que acentua a energia fugidia e esquiva desta lunação. As coisas, as pessoas ou as situações parecem escorregar-nos das mãos, como os sonhos que nos escapam da mente mal nos sentimos despertos. Mas é também no território da imaginação que nasce o impulso artístico, a necessidade de criar algo que é maior que nós próprios. Mais à frente, mas ainda afogado no oceano ilimitado de Peixes, está Mercúrio. Quase no fim da sua passagem por este signo, o planeta das palavras pára e inverte a sua marcha um dia antes, encontrando-se ainda estacionário no momento da Lua Nova, e ficará retrógrado durante quase toda a lunação. Mercúrio é a lógica, a mente concreta, ele traduz as sensações e percepções em ideias compreensíveis. Em Peixes ele fica confuso e tropeça nas palavras e nos pensamentos, sem achar congruência entre o que diz e o que quer dizer. Aqui a sua função não é encontrar palavras, é, sim, encontrar formas mais subtis de comunicação, outras linguagens, que permitam que as imagens e os símbolos abarquem o máximo de significado possível. Retrógrado, Mercúrio aponta-nos os caminhos de dentro, as respostas não vêm de fora, não há ninguém que nos possa ensinar a linguagem com que nos entendemos a nós próprios. Só nós a podemos descobrir. Apesar de navegarmos no alto mar, é da terra que nos chega o apoio. Saturno, a estrutura e a disciplina, está em Capricórnio, a rocha dura e inabalável que é o seu próprio território, e o enérgico Marte segue em Touro, a terra lenta e paciente, que trava o ímpeto do planeta vermelho, mas que também o torna persistente e obstinado. Os dois formam um trígono entre si e, a meio caminho entre eles, a Lua e o Sol fazem um sextil a cada um destes dois planetas. Marte em Touro, desde que tenha o estímulo certo, é incansável na perseguição dos seus objectivos e Saturno em Capricórnio é esforçado, mas também realista e ensina-nos a reconhecer os nossos limites. Os dois colaboram para a concretização dos sonhos e visões que a Lua Nova em Peixes nos traz. Nesta Lua Nova a tendência é para nos perdermos na nossa própria fantasia, gerando confusão dentro de nós e afastando-nos da realidade sem nos darmos conta. A razão, o intelecto e o raciocínio de pouco valem nesta altura, agora é a arte que nos salva. Mas a arte só é arte quando ganha forma, corpo, quando é partilhada, quando a inspiração enfrenta as limitações da realidade. A arte é arte quando o nosso mundo interno se revela maior que nós mesmos e encontra eco no colectivo. Assim, as manifestações artísticas têm terreno fértil nesta lunação. Fazer (ou ouvir) música, escrever (ou ler) poesia ou dançar são algumas actividades estimuladas, não pela promessa de protagonismo, mas porque não é mais possível guardar dentro de nós aquilo que transborda do nosso peito. Nesta Lua Nova não são as instruções claras e objectivas que nos vão indicar o caminho, pelo contrário, se não estivermos atentos às entrelinhas e aos silêncios, vamos ficar mais desorientados do que quando começámos. Deixemo-nos antes guiar pela imaginação e pela intuição, deixemos que a música reine sobre as palavras e que a sensibilidade seja o nosso guia. Deixemos que a nossa inspiração se manifeste, entregando-a ao mundo porque, na verdade, é aí que ela pertence. Afinal, como dizia o poeta, “o sonho comanda a vida”.
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