No momento em que o bebé nasce, ele vive o seu primeiro trauma, o trauma da separação. Antes do nascimento, ele é tudo o que existe e tudo o que existe é o bebé, vivendo num universo que lhe satisfaz todas as necessidades sem que para isso tenha de se esforçar. Porém, no momento em que nasce, tudo muda, ele deixa de ser um com a mãe para começar o seu percurso enquanto ser individual. Nesta nova vida, a sua primeira relação é com a mãe, que, apesar da separação, vai continuar a desempenhar o papel de protectora e cuidadora, mas agora e por causa dessa separação, a satisfação das necessidades do bebé não é imediata, nem constante e nem sempre é realmente à medida da sua fome. Assim, mesmo com o esforço da mãe, haverá momentos em que ele vai sentir o desconforto e a insegurança, momentos em que vai querer mais e momentos em que se vai sentir simplesmente insatisfeito e isto acentua o seu sentimento de separação. A forma como a mãe dá colo e alimenta, mesmo que não seja a que sempre satisfaz o bebé, vai marcá-lo de tal forma que será para sempre a sua bitola de nutrição emocional e de segurança. Simultaneamente, este será também um padrão de carência e de vazio. Este padrão é simbolizado na Astrologia pela Lua. Se nos lembrarmos de como a Lua está sempre a mudar, desde cheia e redonda até completamente invisível no céu, ou de como ela influencia as marés, que enchem e vazam, podemos perceber este vai e vem de saciedade e de insatisfação. Em adulto, esta pessoa continua a carregar consigo esta memória e vai procurar que os relacionamentos a alimentem da mesma forma que a mãe a alimentou e a protegeu, porque esse é o seu hábito, o que conhece, mesmo que isso não a tenha satisfeito completamente. Acontece que o nosso caminho é da dependência para a autonomia e, eventualmente, temos de aprender a satisfazer a nossas próprias necessidades, materiais e emocionais. Alguns astrólogos dizem-nos para esquecermos a Lua, que pertence ao passado e representa padrões inconscientes que devemos ultrapassar. Porém, o bebé carente e dependente continua cá dentro a pedir para ser saciado. Mais importante do que ignorarmos esse bebé, é nós aprendermos a cuidar dele sem ceder aos seus caprichos e às suas birras. Aprendermos a ser mãe de nós mesmos, aprendermos a proteger e a alimentar o nosso lado emocional, mais vulnerável e inseguro, sem prejudicarmos os outros à nossa volta e sem nos sacrificarmos no processo, é um dos passos mais importantes no caminho do nosso crescimento individual e da nossa autonomia.
0 Comentários
Às vezes apercebo-me que a questão da espiritualidade é vista por algumas pessoas como uma espécie de escada, uns estão uns degraus abaixo, outros uns degraus acima, mas será mesmo assim? Será que existem “níveis” de espiritualidade? Assumindo que sim, quem será mais evoluído? O que vai para África em missão, ou o que ajuda uma família carenciada no seu bairro? O paramédico que todos os dias está pronto para salvar vidas, ou aquele que doa medula óssea, sangue, ou um rim? O que faz voluntariado com animais abandonados, ou o vegan? Existem causas mais evoluídas que outras? Obviamente, não existe apenas uma resposta certa. Todas estas pessoas estão de alguma forma a contribuir genuína e espontaneamente para um bem comum e para algo maior do que elas próprias. A nossa essência, a nossa expressão mais verdadeira, é representada no mapa astrológico pelo Sol. Assim como esta estrela é o centro do nosso sistema solar, também o Sol no nosso mapa natal é o centro da nossa personalidade. Ele é a força criativa de onde tudo emana, a luz que nos ilumina, o eixo da nossa consciência. O seu símbolo na Astrologia é um círculo com um ponto no centro, representando a unidade como o ponto de partida para o todo. O Sol simboliza também o espírito, a chama divina que cada um de nós traz dentro de si. A nossa missão é fazê-la brilhar o mais possível, permitindo que ela ilumine tudo e todos à sua volta. Acredito que a Humanidade, enquanto colectivo, tem um caminho de crescimento e evolução que, eventualmente, nos levará de regresso a casa. Esse caminho é feito de todos os pequenos passos que cada um de nós, individualmente, dá em direcção ao seu próprio Sol, à sua própria essência. É neste movimento para dentro que inevitavelmente nos viramos também para fora, para o todo, deixando o nosso espírito e nossa essência transparecer para o Mundo inteiro. Servindo algo maior do que nós, fazemos a integração do nosso propósito individual com o propósito de toda a Humanidade. Sempre que caminhamos, umas vezes o pé esquerdo está à frente, mas logo a seguir está o direito, pois os dois são necessários para avançar. Da mesma forma, todos somos necessários para fazer este caminho. Assim como o Sol tudo ilumina sem nada discriminar e sem nada julgar, talvez a verdadeira espiritualidade seja a plena consciência de tudo e de todos, os mais e os menos “espirituais”, que é, em última instância, a plena consciência de todas as partes de nós próprios. |
Apoiar o meu trabalho:
Categorias
Tudo
Arquivo
Fevereiro 2024
|