Eu não estou bem.
Estes dois últimos anos têm sido mental e emocionalmente muito duros. É verdade que a pandemia me trouxe coisas boas. Coisas muito boas mesmo. Passei todo o meu trabalho para online e isso devolveu-me a minha casa, que agora é só para mim e para os meus, e tempo, que deixei de precisar para preparar a sala de aula ou para arrumar o consultório. Conheci outros astrólogos, com quem tenho aprendido muito e com quem criei laços que ultrapassam a astrologia e transbordam para a amizade e para o apoio mútuo. Foi também durante a pandemia que me reconheci como autista. Foi um alívio entender a minha vida sob a perspectiva da neurodivergência. Encontrei também uma comunidade incrível que me recebeu de braços abertos e que me ensinou tanto sobre mim mesma. Mas tem sido intenso. E a angústia e a dúvida colectivas não me passam ao lado e têm também contornos pessoais. São já dois anos de incertezas, de desafios, de procura de soluções, de novas perguntas, de processos contínuos e intensos. Por um lado, estou em construção e preciso de me refazer a nível profissional. Por outro, estou em desconstrução porque já não caibo no papel que desenhei para mim própria. A minha verdade é agora mais larga e eu preciso de ocupar novos espaços que até há pouco tempo eu não sabia serem meus ou sequer conhecia. Eu não estou bem. Estou cansada e a gerir demasiadas emoções, processos internos e realidades externas que me ultrapassam. Nos últimos dias, assistimos ao início de uma guerra que pode mudar radicalmente os contornos da Europa e fazer desequilibrar a balança de poder no mundo. E eu tenho de escrever sobre a Lua Nova. Só que não consigo. A minha cabeça está um nó e a ansiedade em alta. O foco não está onde eu queria que estivesse e as emoções presentes são gigantes e pedem toda a atenção disponível. Com demasiada água no meu mapa, eu não consigo fazer um bypass ao que sinto, pelo contrário. A minha sensibilidade é a minha realidade. Para melhor e para pior. Nos últimos anos tenho falado muito sobre autocuidado e aceitação e agora preciso de honrar as minhas próprias palavras e respeitar o lugar onde estou. Aceitar que me sinto cansada e confusa e parar de fazer o que não me faz sentido, mas que acho que preciso de fazer porque é o que os outros fazem. Entregar-me. Assim, não posso garantir que no próximo mês voltarei a escrever sobre a Lua Nova. Mas posso combinar contigo que, sempre que eu escrever sobre o que quer seja, o farei a partir de um lugar ainda mais profundo e cada vez mais verdadeiro. (Às vezes parece que a minha vida se resume a isto: por não saber quem sou, na tentativa de ser quem não sou, vou descobrindo quem sou por exclusão de partes.)
29 Comentários
Rita Brito
2/3/2022 07:44:08
A tua Lua!! Um xi-❤ bem apertado!
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Bárbara Bonvalot
2/3/2022 17:46:42
Outro de volta ❤️
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Rita
2/3/2022 07:57:34
Pois eu agradeço tudo o que me ajudaste a conhecer e descobrir em mim. És muito especial! Um grande beijinho
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Bárbara Bonvalot
2/3/2022 17:48:17
Obrigada e beijinhos!
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Olga
2/3/2022 08:04:05
Querida Bárbara, Obrigada pela partilha tão genuína, tão verdadeira.
Responder
Bárbara Bonvalot
2/3/2022 17:53:57
Obrigada, querida Olga.
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Pilar Mendes
2/3/2022 08:45:09
Um bjinho <3
Responder
Bárbara Bonvalot
2/3/2022 17:56:56
Beijinho, Pilar!
Responder
Ana
2/3/2022 09:31:12
Que grande coragem tu tens para expores o que sentes (essas águas turbulentas que eu também conheço). Gosto muito das tuas luas, gosto muito de te ler, astrologicamente ou apenas assim, simples e verdadeira. Tem o tempo que precisares, eu espero :-). Cuida de ti. "nadamos" juntas. ☆
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Bárbara Bonvalot
2/3/2022 18:00:04
A exposição não é por coragem, é só porque não conseguia fazer outra coisa, mesmo.
Responder
Maria
2/3/2022 10:31:56
Espero que volte a se sentir bem em breve, às vezes é mesmo difícil não se misturar a tudo isso. Sentirei falta das suas palavras, sempre tão doces e gentis. Cuide-se e até breve.
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Bárbara Bonvalot
2/3/2022 18:02:25
Obrigada, Maria ☺️
Responder
2/3/2022 10:37:56
Bárbara...ler as tuas palavras foi muito importante.
Responder
Bárbara Bonvalot
2/3/2022 18:06:36
Querida Soraia, obrigada por estares aqui.
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Lavínia
2/3/2022 12:51:53
Querida Bárbara, não tem de escrever sobre a lua nova! A lua sabe o que se passa consigo, aceita, compreende e ,espera pela lua cheia que lhe trará um sorriso cheio da luz do sol.
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Bárbara Bonvalot
2/3/2022 18:07:26
Obrigada pelas palavras, Lavínia.
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Ana Costa
2/3/2022 12:55:04
Obrigada pela partilha querida Bárbara. Sinto que o caminho é mesmo por aí. Abraço
Responder
Bárbara Bonvalot
2/3/2022 18:09:37
Por aí caminharemos.
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Catarina Campos de Almeida
2/3/2022 16:40:22
É sempre uma alegria ler-te, fazer parte do teu mundo, viver o que vives através da tua palavra e deixar-me assim encontrar uma outra parte de mim, que vive em ti. Um abraço coração em fraternidade <3
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Bárbara Bonvalot
2/3/2022 18:11:10
Obrigada, Catarina.
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Márcia Silva
2/3/2022 20:49:09
Como te compreendo Bárbara! Senti cada palavra como se fosse minha. Tenho sentido exactamente o mesmo.
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Bárbara Bonvalot
3/3/2022 16:20:43
Obrigada, Márcia. Escrever já é parte da recuperação.
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Carla Fonseca
3/3/2022 11:50:42
Não estar bem também faz parte de Ser no mundo, e uma parte tão importante... porque a angústia, é sobretudo a consciência da existência.
Responder
Bárbara Bonvalot
3/3/2022 16:21:32
Um abraço de volta, Carla!
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Ana Filipa Medeiros Marques
4/3/2022 09:43:42
Querida Bárbara, um abraço apertado, obrigada pela partilha em vulnerabilidade.
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Bárbara Bonvalot
6/3/2022 17:06:19
Obrigada, Filipa ⭐
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Maria Margarida Gomes Carreira Reis
11/3/2022 10:23:17
Ao ler este texto veio me à memória uma frase que li algures " Mercúrio é o único que consegue entrar no mundo de Pllutão ir ao fundo e voltar." Mercúrio rege a escrita, e é através da escrita que nós conseguimos deitar para fora muito do que noa atormenta e isto deixa nos mais leves, diria que em parte nos cura e também têm o poder de curar os outros. A escrita têm um poder altamente regenerador. Quem têm o Dom de olhar para dentro de si mesmo, têm o Poder de se regenerar. Abraço
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Bárbara Bonvalot
12/3/2022 19:24:05
Obrigada pelas palavras, Margarida.
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sandra fernandes
18/4/2022 16:17:33
Ai Bárbara que bom que foi ler-te! Como me revejo nas tuas emoções! Tão isto também deste lado, e este cansaço que não é o bom. Sente-te abraçada! Bjinho
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