A lunação que está agora a terminar trouxe algumas mudanças, umas pessoais, outras colectivas, sendo a mais marcante o início do desconfinamento. Mas estas mudanças ainda sabem a pouco. Uns querem um regresso mais rápido a uma normalidade que já não existe, outros desejam já uma nova sociedade que ainda desconhecem. A impaciência cresce e confunde-se segurança com prisão e satisfação de impulsos com liberdade. Este mês lunar queremos avançar para respostas e soluções, mas, com três planetas retrógrados no céu – Vénus, Júpiter e Saturno –, os passos em frente podem não passar de tentativas e ensaios ou, na pior das hipóteses, de passos em falso e de castelos construídos o ar. Na próxima sexta-feira, às 18h38 de Lisboa, 14h38 de Brasília, Lua e Sol juntam-se para um tête-à-tête nos 2° de Gémeos. Este é um signo do elemento ar, das ideias, das palavras, das conversas e das trocas. É também um signo dual e consegue ver as coisas sob vários pontos de vistas sem se comprometer com nenhum. As notícias e as falsas notícias circulam lado a lado e confundem-se, somando à incerteza que sentimos colectivamente. Os luminares ainda formam um brando trígono com Saturno, que está em Aquário e é um dos responsáveis por toda a desconstrução que está a acontecer. Por outro lado também é ele que nos pode ajudar a perceber o que é importante preservar e o que é precisamos de construir de novo. Este é um momento para pensar em que alicerces queremos apoiar a nossa vida, que novas regras precisamos de implementar para criar uma sociedade mais inclusiva, mais solidária e mais conectada com todos. Por enquanto são apenas tentativas, experiências que podem ou não fazer sentido para o futuro que desejamos. Mais lá à frente, no início do próximo ano, saberemos melhor qual o chão que vamos pisar nos próximos tempos, tanto a nível individual como a nível colectivo. Lua e Sol começam também uma conversa tensa e confusa com Marte em Peixes. Neste signo, o guerreiro torna-se sub-reptício e insidioso. A sua espada fica invisível e o corte é feito através de cortinas de fumo e de golpes de ilusionismo, mas nem por isso magoa menos. Marte em Peixes também pode ser um cavaleiro com uma missão, mas os seus altos ideais precisam de ter os pés assentes no chão ou ele torna-se um Dom Quixote que confunde vulgares moinhos de vento com perigosos gigantes. Quem toma conta desta lunação é Mercúrio, que também está em Gémeos e numa conjunção perfeita com Vénus, o que vale dizer que está em casa e em boa companhia. A todo este conforto junta-se ainda uma quadratura, também exacta ao grau, ao elusivo Neptuno em Peixes. Mas nós nem nos apercebemos da tensão, afinal a fantasia, a dissimulação e o escapismo são da natureza tanto de Neptuno quanto de Peixes. Vénus, como Saturno, está em movimento retrógrado e confundimos aquilo que sabemos com o que gostaríamos de saber. Acreditamos no que queremos acreditar e queremos acreditar que temos as respostas, que encontrámos a solução e que conhecemos a salvação. A incerteza é tão grande que acreditamos que conseguimos ver para lá do nevoeiro que se abateu sobre nós. Os passos mais curtos tornam-se os mais sensatos e as palavras mais pequenas as mais verdadeiras. Esta lunação, que culmina com a Lua Cheia, também eclipse lunar, no dia 5 de Junho, é propícia à partilha de ideias sobre o que queremos construir no futuro e até a pequenos ensaios de novas formas de funcionamento, seja na nossa vida pessoal, seja em comunidade. Mas também há espaço para fantasias e devaneios e, se nos deixarmos encantar pela música do flautista de Hamelin, acabamos por esgotar a nossa energia a alimentar os seus interesses em vez dos nossos sonhos. Cuida para que os teus disparates não se tornem demasiado grandes, pois eventualmente terás de lidar com as consequências. Que regras ou procedimentos precisas de alterar na tua vida para te tornares mais flexível e mais leve? Que pequenas alterações podes fazer no teu quotidiano para te aproximares mais do que é verdadeiramente importante para ti? Como é que podes ligar-te mais à sua comunidade e contribuir de forma continuada e sustentada para o bem comum? O mais provável é que muitas destas pequenas experiências sejam abandonadas antes do fim do Verão. Mas os caminhos fazem-se assim mesmo, através de tentativa e erro. Os sonhos e os ideais são essenciais ao nosso progresso colectivo, mas não servem de nada se, antes de mais, não soubermos estar aqui em baixo, perto da nossa humanidade, da nossa incerteza, e com os corações abertos uns aos outros.
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