Lua Nova: 11˚ Carneiro 31' Lisboa: 1.Abr.22, 7:24 Brasília: 1.Fev.22, 3:24 Percepciono o mundo através de sensações, emoções e sentimentos. O que significa que sou hipersensível, tanto a nível emocional como sensorial. (Para simplificar, e porque dentro de mim é difícil separá-los, vou usar a palavra sensações e sentir para falar sobre estas ideias durante o resto do texto). Sinto demasiado. Sinto intensa e profundamente. Mas na maioria das vezes não tenho consciência do que estou a sentir. Para me tornar consciente de algumas das minhas sensações, tenho de parar e ficar um pouco com a sensação que está presente. Não é fácil. Às vezes, as sensações são demasiado desconfortáveis e não as quero ver cara a cara. Quero afastar-me. Mas já sei que sentar-me com elas é a única saída, e, se e quando me sentir suficientemente segura, então abro a guarda e deixo sair essas sensações para poder olhar para elas e conhecê-las. Digo olhar para elas, porque, normalmente, as sensações vêm com imagens. Não imagens reais, cheias de detalhes, contornos e definição. Mais como imagens subjectivas, oníricas, carregadas de simbolismo e significado. Uma ideia pré-verbal que de alguma maneira serve como uma forma, ou uma estrutura, através da qual as sensações podem tornar-se mais distintas e visíveis para mim. Por vezes as imagens são memórias ou histórias que na minha cabeça são descritivas desse sentimento, emoção ou sensação. É por isso que, por vezes, tenho de contar uma história para conseguir transmitir o meu ponto de vista. Outras vezes, se tiveres sorte, eu já sintetizei a história numa fórmula verbal que é mais directa e de fácil digestão para as outras pessoas. Este é o último passo, verbalizar a imagem. Isto normalmente leva tempo. Muito tempo, dependendo se o contexto é novo ou inesperado para mim. Às vezes não digo nada. Não porque não se passa nada dentro de mim. Não porque não esteja consciente do que se passa à minha volta (embora de vez em quando isto também seja verdade, mas este assunto fica para outra altura). Mas porque estou a processar todos os estímulos nesse modo sensitivo inicial, e vou levar algum tempo, de preferência num ambiente seguro, a processar a minha resposta em palavras compreensíveis que eu e as outras pessoas possamos entender. Os meus começos são neste modo sensível, instintivo, muito cru e quase animal, onde estou muito atenta a tudo e a processar todos os inputs a um nível muito profundo e inconsciente. A energia direccionada para este processo é muita e, enquanto isto está a acontecer, não há ninguém no leme. A tripulação está toda reunida à volta das informações que estou a receber e o navio ficou em piloto automático. Acredito que todos os nossos começos têm o mesmo padrão. Quem somos e como reagimos no início de qualquer processo é semelhante a quem éramos e como reagíamos no início da nossa vida. (Explico isto aqui.) É por isso que é sempre tão difícil definir-me quando me encontro num novo contexto. Quando estou nesse modo sensível dos inícios, não sei quem sou. A definição só acontece em relação, e, enquanto estou a sondar, a sentir e a processar a um nível inconsciente cada estímulo que recebo do mundo exterior numa determinada situação, ainda não consigo saber quem sou nessa situação. No meu mapa natal, o asteróide Quíron, o centauro estudioso e curador, está em Carneiro, signo da definição e da assertividade, na décima segunda casa, o lugar da inconsciência e da perda de identidade. Este asteróide simboliza o sofrimento e as feridas que nunca fecham. Mas é também acerca de rendição, aceitar essa ferida e ensinar os outros sobre esse tema. Definir-me é uma espada de dois gumes. Ser vista significa que estou a abrir a possibilidade de rejeição. Não ser vista significa que não vou conseguir satisfazer as minhas necessidades. O meu Quíron natal está muito próximo desta última Lua Nova em Carneiro, que aconteceu em conjunção com o mesmo asteróide em trânsito. Isto significa que estou a passar pelo meu retorno de Quíron, aquela altura na vida em que o centauro regressa à sua posição natal e nos obriga a desfazer as malas e lidar com toda a bagagem acumulada até ao momento presente. Na verdade, estou já no final deste trânsito, e posso dizer-te que tem sido uma viagem bonita, muito profunda e muito intensa. O centro desta viagem tem sido a minha auto-descoberta autista. Compreender-me através desta lente que tem todas as cores do arco-íris e encontrar o meu próprio contorno nesta dimensão escondida e tantas vezes mal compreendida da neurodiversidade é o ensinamento que Quíron tinha para mim este tempo todo. Há dois anos, não teria conseguido explicar-te o meu padrão de processamento como descrevi acima pela simples razão de que não me era conhecido com este detalhe e profundidade. Mas esta descoberta não é sem dor. Nomear-me, ser capaz de dizer "sou autista", é por vezes recebido com incompreensão ou mesmo confronto. A tal espada de dois gumes. A questão é que, ao conhecer mais dimensões de mim própria, não as posso desver, não posso voltar àquela pessoa indefinida, bem comportada, maleável e pronta a adaptar-se ao mundo exterior. À medida que conquisto cada vez mais paisagens interiores, torna-se mais difícil corresponder às expectativas das outras pessoas e às normas sociais. Nesta lunação, com Quíron conjunto à lua nova em Carneiro, conhece quem és, define-te e diz o teu nome. Eu sou a Bárbara. Astróloga. Autista. Opinativa. Quem és tu?
7 Comentários
Lavínia Maria da Franca
6/4/2022 14:38:03
Olá Bárbara, para ir directa ao assunto: não me faz sentido que a Bárbara se apresente como "Bárbara . Astróloga. Autista. Opinativa"
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Bárbara Bonvalot
6/4/2022 17:38:34
Agradeço o cuidado, Lavínia.
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Lavínia Maria
6/4/2022 20:43:14
Obrigada, Barbara. realmente, nada sei sobre o autismo.
Olga
6/4/2022 14:53:24
Que partilha mais LINDA e MARAVILHOSA!! Obrigada Barbara, pela tão sincera partilha e por desafiares-me a ser quem sou, a dizer o meu nome, a dizer o que sou, sem medos.
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Bárbara Bonvalot
6/4/2022 16:44:44
Obrigada pela tua presença e pelo teu carinho, querida Olga :)
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Ana Catarina Mendes
7/4/2022 00:14:14
Obrigada, Bárbara! Que síntese. Que força a deste texto. E o desafio?
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Bárbara Bonvalot
9/4/2022 17:03:55
Olá, Catarina 😊😘
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