Lua Nova: 24˚ Caranguejo 56’ Lisboa (UTC +1): 17 de Julho de 2023, 19h31 Brasília (UTC -3): 17 de Julho de 2023, 15h31 As últimas semanas já foram mais leves, mas também cheias de movimento e de contactos sociais. Espero que também tenhas tido tempo para pôr em dia algumas conversas necessárias. A lunação de Caranguejo abre-nos uma passagem para dimensões mais profundas e desconhecidas dentro de nós ou, no mínimo, novas dimensões de territórios já conhecidos. Nas próximas semanas podemos dar por nós a revisitar alguma situação que já parecia terminada, mas a fazê-lo com um novo olhar e a encontrar novas respostas e uma nova compreensão. Signo de Caranguejo Este é o signo das primeiras águas, onde encontramos a nascente de todos os rios e a fonte primordial de toda a vida na terra. Caranguejo é das águas doces e suaves, onde guardamos as nossas emoções, a nossa memória e a nossa fragilidade e onde procuramos a segurança do que é habitual e conhecido. Caranguejo é a casa da Senhora Lua e é tão inconstante e volátil quanto ela. Neste signo, somos simultaneamente a mãe e o bebé, oferecemos protecção e pedimos colo, experienciamos a sensibilidade e o capricho. Talvez a maior lição de Caranguejo seja aprender o autocuidado. Cuidar das outras pessoas é fácil, assim como é fácil escorregar para a expectativa de que elas adivinhem as nossas necessidades e cuidem de nós. Difícil é assumir a própria vulnerabilidade, reconhecer as próprias carências e limites e saber quando pedir ajuda. Oposição a Plutão em Capricórnio Esta lua nova faz aspectos maiores aos três planetas transpessoais. Começamos com Plutão, o senhor do submundo, que está mesmo do outro lado da lua nova, a confrontar-nos, a mostrar-nos medos que tinham ficado para trás e que não seria mais necessário olhar para eles. Pensávamos nós. Podemos dar por nós a revisitar dinâmicas de poder que pareciam já ter ficado arrumadas no início do ano. Por ser especialmente sensível, esta lua nova vem mostrar o que ainda precisa de ser limpo. Vamos aperceber-nos de um novo nível de profundidade que precisa de atenção, talvez tenhamos acesso a algo que não sabíamos antes e que vamos precisar de processar. O importante é reconhecer que, se há algo que dói, há algo que precisa de atenção e de cuidado. E essa atenção e esse cuidado vão transformar-nos e vão levar-nos a uma nova e ainda mais profunda dimensão de poder pessoal. Trígono a Neptuno em Peixes Neptuno, o planeta da fantasia e do inconsciente, também é tocado por esta lua nova, mas aqui a conversa é mais agradável. Em vez de tentar controlar o processo que Plutão nos traz, qualquer que ele seja, será mais proveitoso entregar-nos e deixar que as coisas corram para onde tiverem de correr. Nesta fluidez acabamos por nos alinhar com algo maior e mais subtil, a própria vida. A influência de Neptuno também nos traz a inspiração necessária para a criação de uma coisa nova. Pode ser algo artístico — um livro, um poema, um desenho — ou pode ser a visão de uma nova realidade que imaginamos para nós. De uma forma ou de outra, esta intuição é a luz que precisamos para continuar o caminho. Sextil a Urano em Touro Esta lua nova também faz aspecto suave a Urano que lhe empresta a sua rebeldia e excentricidade. Queremos libertar-nos do que nos assusta e queremos sentir novamente o conforto de um colo seguro. Mas também sabemos que o caminho não é para trás, ainda que possamos encontrar formas de tornar a aventura menos arriscada. Mercúrio em Leão quadratura a Júpiter em Touro Entretanto, existem conversas paralelas que não incluem a Lua e o Sol. Uma delas é de Mercúrio com Júpiter que, não sendo difícil, pode levar-nos a um optimismo exagerado e a uma tendência de querer dar um passo maior do que a perna. Confiança na vida é bom, mas se nos dispersamos demasiado a achar que conseguimos fazer tudo ao mesmo tempo acabamos por não chegar a lado nenhum. Lembremos a visão, mas olhemos também para os pequenos passos necessários para lá chegar. Marte em Virgem oposição a Saturno em Peixes Por último, o aspecto entre Marte, planeta da acção, e Saturno, o planeta do esforço, traz um tom de frustração a esta lua nova — entre aquilo que queremos e aquilo que estamos a conseguir vai uma grande distância. Em vez de desperdiçarmos a nossa a energia a lutar contra moinhos de vento, podemos adoptar uma perspectiva mais realista e uma atitude mais disciplinada e resiliente. Qual é a acção que, por muito pequena que seja, repetida muitas vezes te vai ajudar a conseguir resultados? Mesmo que no início não pareça, é isto que precisas de fazer chegar aonde queres. Síntese da Lua Nova Em Caranguejo queremos chegar a casa, encontrar aquele lugar seguro onde podemos relaxar. Nesta lua nova, para o fazer precisamos de confrontar algum medo que ainda persiste e teima em nos manter alerta. E isto pode ser mais fácil do que parece, afinal é só deixar cair os braços e dizer “aqui estou, já não quero mais lutar contigo.” O que é que estás a querer muito, mas sentes que não estás a conseguir resultados? Que parte da tua vida afectiva está a precisar de uma limpeza profunda? Onde é que precisas de mais disciplina sem esperar resultados imediatos? Em relação a quê ou a quem precisas de largar o controlo e confiar que a vida te vai trazer o que precisas? Acredito que as tuas respostas a estas perguntas te podem ajudar a navegar as próximas semanas. Esta nova lunação traz-nos uma combinação subtil entre confiança e frustração, entrega e atitude. E com tudo isto vamos adentrar uma nova profundidade e aprender mais um passo no que significa para nós autocuidado.
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Lua Nova: 26˚ Gémeos 43’ Lisboa (UTC +1): 18 de Junho de 2023, 5h37 Brasília (UTC -3): 18 de Junho de 2023, 1h37 A densidade das lunações anteriores já vai passando para trás e agora ficámos a lidar com as consequências. Nas últimas semanas, algumas situações que há já algum tempo estavam a tornar-se insustentáveis foram precipitadas para um ponto de ruptura. A prepotência, a manipulação ou a negação do nosso poder pessoal saltaram para primeiro plano e tivemos de encarar mudanças que já se anunciavam inevitáveis. A próxima lunação começa com dúvidas, inseguranças e alguma confusão. Ainda estamos a gerir a inquietação, o susto e o medo que ficaram, a tentar perceber o que é real e o que não nos pertence. Mas esta lunação chega também com o espaço necessário para conversas importantes, autênticas e honestas sobre as nossas emoções e sobre qual o caminho a seguir. Signo de Gémeos Quando o excesso de calma de Touro dá lugar à inércia, Gémeos chega para levantar vento. Às vezes fresca e forte, outras vezes quente e doce, esta brisa desarruma-nos as ideias e traz-nos movimento e inquietação. Gémeos é o Ar mutável, dual e múltiplo, que nos põe a cabeça a mexer e nos agiliza a perspectiva. A agitação mental, a curiosidade e o domínio da retórica são características deste signo. Mas a agilidade e a inquietação mental no seu exagero podem tornar-se inconsistência, superficialidade e até chegar ao disparate. No seu melhor, Gémeos tem o dom de espalhar as ideias, fomentar a aprendizagem, transmitir o conhecimento e promover a comunicação. Quadratura a Neptuno em Peixes O único aspecto planetário desta lua nova é uma tensão bastante apertada com o vago e indefinido Neptuno. Queremos entender, articular e expressar o que nos vai na alma, no corpo e nas emoções, mas temos vozes contraditórias na nossa cabeça que falam todas ao mesmo tempo, se sobrepõem umas às outras e nos turvam a razão. Podemos questionar de onde vem esta insegurança que nos deixa a cabeça a correr em círculos, se faz sentido e se é real. Talvez seja só o eco de medos passados, de receios fundados em algo que já não existe. Ou então, podemos simplesmente também acolher a dúvida, aceitar que não precisamos de ter respostas — não todas e não já. Quando estamos no meio do nevoeiro, o melhor a fazer é abrandar o passo, deixar de forçar o movimento e deixar fluir. Mas deixar fluir não é deixar andar, é silenciar o ruído e observar o fluxo das emoções. De onde vêm, o que provocam à sua passagem e para onde querem seguir. Só assim podemos realmente compreender o que se passa cá dentro, de forma a conseguirmos partilhar com as outras pessoas as nossas necessidades e os nossos desejos. Conjunção a Juno em Gémeos Neptuno é o único planeta em aspecto aos luminares, mas bem perto desta lua nova está o asteróide Juno. Com o nome da esposa de Júpiter, deusa do casamento, protectora das mulheres e rainha dos deuses, este asteróide é significador destes temas e também da lealdade e dos acordos e compromissos necessários para manter parcerias duradouras. Para construir e manter uma relação é necessário relevar, fazer cedências, mas também saber quando precisamos de nos respeitar e honrar os nossos limites. Juno em Gémeos traz ao relacionamento flexibilidade, curiosidade e abertura ao diálogo e a uma mudança de perspectiva. Se há necessidade de pôr a conversa em dia, actualizar objectivos e expectativas comuns, seja numa relação romântica, seja numa parceria de trabalho, agora é o momento para o fazer. Mercúrio em Gémeos Quem recebe esta lua nova na sua casa diurna é o ágil Mercúrio, o mensageiro dos deuses, que se encontra no mesmo signo dos luminares. Confortável na sua própria morada, o dono da casa faz com que nada daquilo que tem para oferecer falte às suas visitas. Com a hesitação e as dúvidas que a influência de Neptuno traz, podemos ter tendência a dizer demais e a tropeçar nas ideias e dizer o contrário do que queremos dizer. Mas, se formos capazes de aceitar o lugar de fragilidade onde nos encontramos, conseguiremos dar sentido às palavras e abrir espaço para uma troca sincera de opiniões e de sensibilidades. A confiança e a segurança, essenciais numa relação, são construídas quando partilhamos a nossa vulnerabilidade e acolhemos a vulnerabilidade da outra pessoa. As palavras carregam intenções e é importante que estejas conscientes das tuas. Mercúrio sextil a Vénus em Leão A encantadora Vénus, que está agora no signo de Leão, oferece a Mercúrio a sua amorosa e radiante assistência. Gostamos de sentir que somos importantes, que merecemos atenção e que somos motivo de orgulho para quem está ao nosso lado. A tal insegurança precisa de ser compensada e o ambiente é propício a dramáticas e generosas manifestações de afecto. Apesar de haver alguma propensão para exuberância, orgulho ou uma autoconfiança inflada, de uma forma positiva, este clima caloroso e apaixonado pode servir-nos melhor como palco para as tais palavras autênticas e francas que se fazem necessárias. Síntese da Lua Nova Esta lua nova é o momento para plantarmos a semente de uma comunicação verdadeira e amorosa, que inspira confiança e onde há espaço para a nossa vulnerabilidade. Nesta lua nova podes perguntar-te, Que sentimentos e emoções estou a sentir relativamente a esta relação? De que forma gosto de receber atenção e afecto? Quais são as palavras certas para comunicar as minhas necessidades? Lembra-te que que honestidade não é dizer tudo o que nos passa pela cabeça. Honestidade é saber comunicar aquilo que é realmente importante, considerando também se é pertinente e saudável para a outra pessoa receber essa informação. A lua cheia de 3 de Julho, traz-nos a dose de realismo necessária para sabermos em que alicerces estamos a assentar os nossos sentimentos e qual a promessa de futuro. Mas na lua nova é o tempo de semear. Certifica-te que as tuas palavras deixam sementes de verdade, coragem e generosidade. Mesmo no fim do Livro IV do Tetrabiblos, um compêndio astrológico do séc. II, Ptolomeu descreve a “divisão dos tempos”, que divide a vida em sete partes. Estas divisões correspondem às esferas dos sete planetas tradicionais, começando na mais próxima da Terra, a esfera da Lua, e terminando na esfera mais distante, a de Saturno. Assim, cada um dos sete planetas empresta as suas características a um determinado período da nossa vida. Com base nesta divisão, podemos entender a proposta e a qualidade específicas de cada um destes períodos num determinado mapa natal ao analisar a posição e a condição do planeta que o rege. Esta análise oferece um pano de fundo para outras técnicas biográficas ajuda a dar profundidade e textura à interpretação biográfica de um mapa astrológico Lua: dos 0 aos 4 anos A Lua rege os primeiros quatro anos de vida. A Lua é um planeta receptivo e vulnerável, de mudanças rápidas. Alguns dos significados da Lua são a mãe, o corpo, alimentação, o inconsciente, emoções, sensorialidade, dependência. Enquanto bebés, assim é também o nosso comportamento. Estamos constantemente a assimilar de forma inconsciente todos os estímulos que nos rodeia. Muito intuitivamente, vamos adaptando as nossas respostas de forma a garantir a presença da mãe ou da pessoa que cuida de nós, assegurando assim a nossa sobrevivência e o nosso conforto. Mercúrio: dos 4 aos 14 anos No período de Mercúrio, a comunicação, a aprendizagem, a lógica e a noção de alteridade ganham espaço sobre a percepção mais emocional e sensorial da idade da Lua. Apesar de continuar, o crescimento do corpo desacelera e o desenvolvimento intelectual assume uma maior importância nesta fase. A curiosidade natural das crianças e as competências de linguagem entretanto adquiridas tornam-nas aptas a adquirir conhecimentos mais complexos, como por exemplo a aprendizagem da escrita. E é também essa curiosidade que torna as crianças também mais atentas às outras pessoas como seres diferentes e independentes de si. Vénus: dos 14 aos 22 anos Segue-se o período regido por Vénus, que tem sob a sua alçada as relações, o amor, a sexualidade e a sensualidade. O planeta mais brilhante simboliza também a beleza, a harmonia, o prazer e o divertimento. Durante estes anos, as relações pessoais e sociais ganham uma nova importância. As hormonas chegam em força, o corpo alcança a sua maturidade e começam também os ensaios de relacionamentos, os primeiros namoros e as primeiras experiências sexuais e exploramos o prazer e a indulgência em várias dimensões da nossa vida. Nesta fase, procuramos a nossa tribo, uma identidade social que nos devolva um sentido de conexão com um universo mais largo, para lá da família ou da escola. Sol: dos 22 aos 41 anos Os anos sob a regência do Sol representam uma fase de maturidade, autonomia e individualidade. O Sol é a nossa luz maior, aquele que concede vida e calor que a sustém. O astro-rei simboliza também a identidade, a capacidade de julgamento, dignidade, criatividade, poder e consciência. O desenvolvimento físico está completo e as aprendizagens, apesar de nunca terminarem, abrandam consideravelmente. Agora é o momento de transformar em criação e contribuição para o colectivo a soma do que fomos adquirindo antes. Devolvemos ao mundo a essência de quem somos e a nossa vontade e singularidade tornam-se visíveis e manifestas. Marte: dos 41 aos 56 anos Depois do Sol, vem o tempo de Marte, o planeta da acção, do confronto, da ousadia e dos desafios. O planeta vermelho também é significador de determinação, definição, assertividade e conquista. Com Marte no comando, chega a noção de que se aproxima o declínio, o corpo vai somando os anos e já nada vai voltar a ser como foi antes. Mas tentamos combater este pensamento com um impulso para fazer o máximo possível. A confiança e sentido de liderança fortalecem-se, temos noção do que nos define e do que queremos e a audácia e a determinação fazem-se mais presentes que nunca. Júpiter: dos 56 aos 68 anos Na fase da regência de Júpiter, o ritmo abranda, deixamos a urgência do momento anterior e o trabalho vai-se tornando mais leve e a actividade mais ameno e, eventualmente, até agradável. Este planeta representa os princípios e valores morais, a lei, alianças, generosidade, alívio e moderação. Neste período, começamos a preparar uma vida mais calma, mas com mais sabedoria e mais sentido. O convívio e a partilha com as pessoas de quem gostamos e com quem partilhamos interesses assume uma importância renovada. Muitas pessoas aproveitam também para ampliar os seus horizontes, seja viajando seja voltando a estudar. Saturno: dos 68 até ao fim da vida Por último, chega a idade de Saturno, o último planeta visível a olho do nu do nosso sistema solar. Ele é o significador do tempo e dos limites, da seriedade, do constrangimento, da distância e do isolamento. Os anos regidos por Saturno trazem consigo o cansaço, a lentidão, o declínio da vitalidade e os limites do corpo e da mente. Nesta fase, podemos encontrar tanto o respeito pela experiência vivida como a solidão de quem fica para trás. O confronto com as limitações, que se tornam cada vez mais próximas e mais reais, traz-nos, acima de tudo, a consciência da nossa finitude. Fotografia de Nicola Jovanovic em Unsplash Lua Nova: 28˚ Touro 25’ Lisboa (UTC +1): 19 de Maio de 2023, 16h53 Brasília (UTC -3): 19 de Abril de 2023, 12h5 Sobreviveste aos eclipses? Os céus têm estado densos e assim andamos nós aqui na terra, nesta simetria perfeita entre o que está em cima e o que está em baixo. Espero que, apesar do trabalho que isto tem dado, as tuas definições, arrumações ou limpezas tenham sido tão produtivas quanto as minhas. Agora, ainda a carregarmos o cansaço que sobrou das últimas semanas, chegamos a uma lua nova muito activa, a fazer várias ligações apertadas com outros planetas. Não vou falar de tudo, mas vou analisar o mais importante. Esta lunação começa intensa, carregada de ambição, irritação, precipitação e sede de poder. Mas também vem cheia de força, de oportunidades de crescimento e com muita vontade de fazer as coisas acontecer. Signo de Touro Esta é a primeira Terra, aquela que para e fixa a energia que foi libertada em Carneiro. Touro é terra fértil, arável, é o barro com que construímos as paredes da nossa casa e que moldamos para fazer a tigela onde comemos a sopa. Touro é também paciência e espera. O tempo que demora o pão a levedar, a espera de um bolo que coze no forno e o ritmo da roda do oleiro. No seu limite, a lentidão de Touro também pode tornar-se inércia e resistência à mudança, e o seu foco na estabilidade e na preservação podem transformar-se em teimosia e numa obsessão com a posse de coisas materiais. Mas isto só acontece quando o Touro tem medo de perder o conforto. Além da calma e da capacidade de sustento, outra das qualidades de Touro é a simplicidade. Este signo tem uma admirável habilidade para fazer as coisas da forma mais fluída e básica, sem grandes complicações e sem grande esforço, mas de forma ritmada e constante. Sextil a Marte em Caranguejo O contacto mais forte desta lua nova é com Marte, o planeta da guerra, da afirmação e da força. Temos ao nosso dispor a coragem para defendermos o que é nosso e para avançarmos mais alguns passos na construção do que nos sustenta. Marte oferece-nos também o impulso para seguirmos a nossa paixão e o dinamismo para perseverarmos. De uma forma mais prática, pode ser boa ideia encontrar actividades concretas para que essa energia se possa manifestar, seja através do desporto ou de alguma outra actividade que puxe por nós fisicamente. Marte em Caranguejo em oposição a Plutão em Aquário Mas Marte não está sozinho, ele aproxima-se de uma oposição ao poderoso Plutão, que já está em Aquário. A conversa é tensa, os dois planetas atiçam-se mutuamente e conflitos de poder saltam à superfície, dinâmicas de controlo e manipulação ficam claras e estalam lutas pela sobrevivência. Por outro lado, ou talvez precisamente por tudo isto, a paixão e a coragem aumentam exponencialmente e a capacidade de afirmação fica amplificada. Perdemos o medo de dizer o que queremos e somos capazes de lutar contra invasões e abusos como se a nossa vida dependesse disso. Se calhar até depende. Trígono a Plutão em Aquário Se a lua nova toca num lado da oposição, inevitavelmente, mexe com o outro lado também. O contacto que os luminares têm com Marte é o mesmo que vão ter com Plutão. Ao tentarem acalmar os ânimos entre as duas partes acabam por receber deles o melhor que cada um tem para dar. Se Marte nos oferece a força e a audácia, a Plutão vamos buscar a capacidade de entrega e de transformação. Qualquer que seja a batalha que temos pela frente, o mais importante é usarmos essa coragem para mergulhar fundo naquilo que nos magoa e nos fere. Mais do que ganhar ou perder, a oportunidade deste conflito é trazer-nos o reconhecimento do que nos dá estabilidade, mesmo quando precisamos de nos virar do avesso. Quadratura de Júpiter em Touro à oposição de Marte e Plutão Esta conversa tem mais um participante, o magnânimo Júpiter. Este planeta está fora do alcance do Sol e da Lua, mas tem um papel decisivo no conflito entre Marte e Plutão. Ao contrário dos luminares, que pretendem apenas pôr água na fervura, o planeta do julgamento e da sabedoria quer encontrar uma solução definitiva para este duelo — mesmo que isso signifique escalar o conflito momentaneamente. Esta tensão entre os três planetas tem uma natureza dinâmica e guarda um grande potencial de ambição, de libertação e de conquista. Só não podemos sobrestimar as nossas capacidades ou esquecer que não pode valer tudo para chegarmos aonde queremos. Vénus em Caranguejo A simpática anfitriã desta lua nova, a doce Vénus, está no sensível signo de Caranguejo. Aqui, o seu objectivo é unir o que está separado de forma suave, carinhosa e cuidando do que é delicado. É compreensível que a primeira reacção à luta feia entre Marte e Plutão seja a de apaziguamento e pacificação. Mas Vénus também é dispositora de Júpiter que funciona como árbitro entre aquelas duas energias. Então, talvez seja pertinente lembrar que a resolução do embate entre o deus da guerra e o senhor do submundo precisa de respeitar as nossas emoções e a nossa fragilidade. Ou talvez até mais do que isso, a resolução, qualquer que ela seja, precisa de nos levar ao encontro daquilo que é mais vulnerável em nós e encontrar a resposta que sustenta e protege a nossa fragilidade e a nossa humanidade e, pelo caminho, a humanidade de todas as pessoa. Se não salvar as outras pessoas, como é que me pode salvar a mim? Síntese As próximas semanas vão ser intensas, vamos lidar com dinâmicas de poder, atitudes manipulativas e vamos enfrentar poderes que acreditamos serem bem maiores que nós. Mas o abuso também pode ser internalizado e, por vezes, não é contra uma influência externa que precisamos de nos defender. No geral, esta lunação tem um grande potencial de crescimento, tanto a nível interno quanto de realizações externas, e de nos ajudar a avançar com os nossos projectos e a implementar mudanças positivas e duradouras. Deixo-te algumas perguntas que te podem ajudar a perceber como tirar o melhor partido desta lua nova. De que formas eu desrespeito o meu ritmo e as minhas capacidades? Que oportunidades de crescimento este conflito me oferece? Que princípios guiam a minha acção? Como posso juntar os meus valores à minha ambição? Talvez a mais importante pergunta neste momento seja, O que é para ti o sucesso? A tua visão de sucesso é realista, abrangente e sustentável? Agora pensa no que é necessário fazeres para lá chegar. Que este mês lunar nos traga a coragem e a sabedoria para navegarmos este terreno hostil e conseguirmos ir além dos nossos medos. Contexto Esta semana divulguei um Workshop que vou realizar proximamente dedicado a mulheres cis, trans e pessoas designadas mulheres à nascença. O simples acto de ser inclusiva e de usar linguagem apropriada trouxe-me algum ódiozinho gratuito e despropositado. Ser quem eu sou, alinhar as minhas acções às minhas palavras e aos meus ideais, foi chocante para algumas pessoas. Hoje, cansada de responder a cada argumento particularmente, decidi escrever um texto com uma resposta mais abrangente. Feminino O que aquelas mulheres nos comentários do meu post defendem não é, como elas dizem, o “sagrado feminino”. Se a sua real preocupação fosse o Sagrado Feminino, estas mulheres saberiam reconhecê-lo e honrá-lo em cada pessoa, independentemente de essa pessoa ser mulher ou homem, cis ou trans, gay ou hétero, branca ou racializada, com ou sem deficiência. O feminino não é nem nunca foi exclusivo das mulheres. É um arquétipo, uma energia, uma abstracção que é manifestada por qualquer pessoa, de formas múltiplas e diversas. Entender o feminino como uma característica exclusiva das mulheres é limitador, opressor e, acima de tudo, é não saber do que se fala. Ao invocarem a natureza como argumento para esta lógica binária e redutora, apenas demonstram o seu desprezo pela ciência e pela própria natureza, que é fascinantemente complexa e diversa. Feminismo O feminismo, que também está sempre presente nos seus discursos, advoga direitos iguais para mulheres e homens e proclama que a liberdade de umas tem que ser a liberdade de todas. Apesar de, no início do movimento, a interseccionalidade ter sido desconsiderada e até rejeitada, esta noção tem vindo a ganhar cada vez mais espaço dentro do movimento feminista e reflecte a diversidade que, apesar do longo caminho que ainda temos pela frente, está cada vez mais visível e mais representada na vida pública. Mas não é esta a bandeira destas mulheres. Femismo Aquilo que eu vejo ser defendido naqueles comentários, e que vejo no mundo fora da internet em muitos dos grupos de mulheres da “espiritualidadezinha new age”, não é o feminismo, mas uma espécie de femismo, a crença de que as mulheres são superiores aos homens e que defende um regime matriarcal. Ou seja, um espelho do machismo: apenas mais uma forma de oprimir minorias. Aqui, como no patriarcado existe assimetria e exclusão, porque ficam de fora todas as pessoas não-binárias. Aqui, como no patriarcado, faltam o equilíbrio, a equidade, a diversidade e a liberdade. Raiva Quando estas mulheres falam da opressão do patriarcado, nunca falam de opressão colectiva, mas sim da sua opressão individual. Porque a sua luta não é nem nunca foi uma luta de todas. Não é nem nunca foi uma luta pela liberdade e pelos direitos humanos. É tão simplesmente a manifestação de uma raiva alimentada por uma noção de abuso ou injustiça pessoal. Acredito que, enquanto emoção, esta raiva é válida, mas, ao ser manifestada sem uma consciência social e colectiva, torna-se apenas uma réplica da opressão de que elas próprias se dizem vítimas — a vítima torna-se o abusador. Privilégio A liberdade que almejam não é um valor colectivo, mas apenas a ambição egoísta de um privilégio pessoal. Querem o poder que invejam nos homens, mantendo o seu privilégio branco e heteronormativo, mas não a verdadeira liberdade, que emancipa todas as pessoas e promove a sua autonomia e autodeterminação. Esta ideia de privilégio branco e heteronormativo perpassa todo discurso destas mulheres e é evidente nos seus grupos, onde raramente há espaço para a interseccionalidade. Neste contexto exclusivo e segregador, a vitimização passa a ser usada como arma de opressão de outras minorias, como se fosse necessário eliminar todas as pessoas que com elas “competem” pelo papel de vítima. Medo Gloria Steinem disse numa entrevista que “a polarização de papéis de género era um indicador de violência em sociedades tribais”. Acredito que esta atitude de vitimização vem de um lugar de medo e de escassez, um lugar onde é necessário competir pelo poder e por um lugar no topo da hierarquia social, porque não se acredita que haja espaço suficiente para todas as pessoas. A violência passiva implícita na manipulação da condição de vítima é uma estratégia típica das mulheres brancas (das quais eu não me excluo) e conhecida nos meios racializados como “white woman tears”. Diversidade Todos estes argumentos, vitimização, libertação da mulher do patriarcardo, feminismo, a natureza (ou biologia) e o “sagrado feminino”, são usados de forma perversa e esvaziados do seu verdadeiro sentido. Estas mulheres usam-nos levianamente e com um entendimento binário e, por isso, limitado da vida. O dois é apenas um conceito que vem depois da unidade e antes da multiplicidade. A vida e as pessoas não se esgotam nessa superficialidade. Pelo contrário, a vida e as pessoas são muito mais maravilhosamente complexas e diversas. Nota: Comentários que promovam a discriminação e opressão de minorias vulneráveis serão apagados. Não tenho mais energia para gerir abusos.
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