O Rei, o Ferreiro e o Sapopor Eunice Carvalhinho
Era uma vez, um rei muito prepotente e arrogante que desprezava os seus súbditos, sentindo-se muito acima de todos eles. Afinal, ele era o soberano de um reino pleno de riquezas.
Um dia, viajava para uma região do seu reino onde gostava de caçar, quando eclodiu um terrível temporal. O som dos trovões era terrível e os relâmpagos rasgavam o céu. Parecia que o mundo iria desfazer-se em mil e um pedaços. Naquele momento, o rei e o seu séquito atravessavam uma densa floresta. De repente, o rio transbordou e uma enxurrada de água arrastou aquele grupo de homens e cavalos sabe-se lá para onde. O rei, aflito, teve de lutar com todas as suas forças para se manter vivo, sem a ajuda de ninguém pela primeira vez na vida. A certa altura, pensou que iria morrer afogado e pediu ajuda a Deus. Veio a si quando o dia despontava todo esfarrapado e ferido. Olhou à sua volta e não viu ninguém, nem sequer a sua montada. Estava sozinho no mundo. Nisto ouviu algo saltar para a água. Era um sapo que o olhava fixamente. Quem o iria ajudar? O sapo mergulhou e desapareceu. O rei pensava que estava condenado a morrer e chorou desesperado. Meia-hora depois, começou a ouvir o som de um cavalo a trotar. Era um homem do povo, ferreiro de profissão, que o sapo tinha ido chamar para ajudar o rei. O ferreiro levou-o para a sua humilde casa onde lhe tratou dos ferimentos e lhe deu guarida, já que os caminhos estavam inundados e intransitáveis. O rei foi obrigado a estar "preso" naquela casa de um homem do povo, embora se tenha surpreendido a si próprio por se sentir contente de estar vivo. Tudo era tão diferente da redoma real em que vivia. As pessoas da aldeia entre-ajudavam-se e até o sapo, que era mágico, trabalhava. Era mestre a fiar, a tecer e um exímio costureiro. Um verdadeiro artista com a agulha e linha. Após três dias, os caminhos ficaram desimpedidos e o ferreiro levou o rei numa mula até ao seu palácio real. Ia trajado com as suas novas vestes confeccionadas pelo sapo, o mestre costureiro. Quando lá chegou, inteirou-se que todo o séquito que o acompanhava naquela viagem tinha perecido. O sucedido operou uma mudança na maneira de ser do rei que se tornou um homem mais humilde e solidário com as outras pessoas. A gratidão faz milagres. |