A Gruta Misteriosapor Ana Cristina Godinho
Ao longe um barulho... Um barulho suave, tranquilo... Um som de água a fluir... Uma nascente... O começo de um riacho, depois um rio e por fim um oceano.
Alguém o contemplava. Afastada de tudo e de todos, sonhava a olhar para a água. Não queria deixar o sítio onde estava para ir para casa, “O Palácio”. Que coisa impessoal, pensava, lá não se vivia, era demasiado grande, as pessoas quase que não se conheciam, quase que não falavam, não riam, não brincavam. Rosa, era como se chamava a menina que sonhava. Ela sentia-se em casa, ali, no meio da natureza. De repente, sente algo atrás de si. Era um lobo que a olha com curiosidade, nisto, ela vê que ele sofre, coxeia com dores e não consegue colocar a pata no chão. Ao tentar aproximar-se, o lobo recua, não permite que ela o ajude, tem medo. A pequena Rosa, como menina meiga e sensível que era, fala com ele, e lá consegue que ele a deixe ver o que se passa. Afinal era uma pequena agulha o que o lobo tinha espetado na pata. A Rosa, quando a tira, vê que a agulha era de ouro e fica intrigada. De onde terá vindo a agulha? Faz-lhe lembrar a agulha com que a mãe costumava costurar. Nisto o lobo, que já se tinha ido embora, volta para trás e chama-a. Uma vez que ele é bastante insistente, ela vai atrás dele. Chegam a uma gruta tão negra que não se vê nada. Rosa entra a medo e, de repente, ouve um barulho ensurdecedor, era uma espécie de rugido que a deixa paralisada, completamente em pânico tenta fugir, mas o lobo não deixa, agarra-lhe a mão com a boca e puxa-a cada vez mais para o fundo da gruta, precisamente ao encontro do barulho que se ouvia. De repente, Rosa vê um ser enorme, disforme, que em pânico tentava libertar-se de uma corrente que o prendia. Era um ogre, ela percebeu, alguém o tinha aprisionado na gruta. O desespero dele era de tal modo grande, que Rosa se entristeceu. Viu também que ele estava a tentar agarrar um cálice com água, mas como estava longe demais, não conseguia alcançá-lo. Não se atreveu a libertá-lo, ainda estava com medo, mas arranjou coragem e foi buscar o cálice com água para lho dar. No mesmo sítio onde estava o cálice, estava também uma caixa antiga, de madeira, tosca, gasta pelo tempo. Antes de abrir a caixa, para ver o que estaria lá dentro, Rosa leva o cálice ao ogre. Assim que ele pega no cálice e bebe a água, a corrente que o prendia abre, libertando-o do seu cativeiro. Ainda com medo, a menina vê que a primeira coisa que ele faz, é correr em direcção à caixa, abrindo-a, libertando algo lá de dentro. Com espanto, Rosa vê que, quem sai da caixa é a sua mãe que tinha morrido anos antes. Ao vê-la, Rosa sente uma grande alegria. De repente, o ogre transforma-se no seu pai que tinha desaparecido. Ele, com o desgosto da morte da mulher, tinha deixado tudo e todos e partiu em busca de algo. Foi aprisionado e transformado por uma maldição. Rosa ao ouvir a história do pai, chorou tanto que as suas lágrimas foram dar à nascente, correram em direcção ao riacho, misturaram-se com o rio e depois com o oceano. O lobo indicou-lhes que deveriam seguir as lágrimas de Rosa, para assim descobrirem o caminho de casa, o caminho do Palácio. Porém, antes de começarem a viagem de volta, Rosa e o pai, despedem-se da mãe, para assim, ela também puder seguir o seu caminho. Os três, ao chegarem ao Palácio, verificaram que tudo estava diferente, parece que toda a gente tinha acordado, já todos sorriam, se cumprimentavam e falavam uns com os outros. O pai viveu ainda por muitos anos, e Rosa, feliz, sempre acompanhada pelo seu amigo lobo, alternavam os seus passeios entre a gruta e os jardins do palácio. |